domingo, 25 de outubro de 2009

Ganhou o Oscar, mas é bom

Descobri um país pior que o meu: a Índia. Esse negócio de um lugar onde as pessoas vão buscar paz interior, com gente extremamente espiritualizada é tudo coisa para turista bobão. Favelas, desigualdade social, prostituição infantil aliada ao tráfico de drogas, miséria extrema; estava quase me sentindo em casa. Além do fanatismo religioso, que provoca uma "guerra" e outra entre eles. Parece que viver na Índia não é nada auspicioso. Assim que o diga Jamal Malik e Latika, de Slumdog Millionaire.
Assim que foi lançado Quem Quer Ser Um Milionário, morri de vontade de vê-lo. Todavia, depois que ganhou o seu "Oscar", tornei-me um pouco resistente. Isso porque eu sempre arrumo briga com os grandes ganhadores. Não que os últimos sejam filmes ruins, mas poxa, para ganhar um prêmio de melhor do ano...sinto que os jurados se reúnem para rir da minha cara. Bem na verdade, acho que eles só vêem os trailers e lêem as críticas do "New York something". Ou seja, escolhem o filme que a grande massa escolheria (não que eu esteja me referindo à grande massa com inferioridae). Mas agora tanto faz se os infelizs dos jurados foram felizes na escolha ou não, o que interessa é que eu vi. E gostei do que vi. Muito. Mas muito mesmo.
O filme é um misto de denúncia social com um romance de conto de fadas moderno. Tem tudo em uma coisa só: ação, drama, romance, suspense. Só não tem comédia; e, se tem, é algo do tipo vou-rir-pra-não-chorar. A história é sobre um servidor de café de um call center chamado Jamal, que para tentar reencontrar seu grande amor, participa do programa "Quem Quer Ser Um Milionário", que nada mais é do que um Show do Milhão hindu. Jamal, incrivelmente, acerta todas as perguntas, o que faz com que o apresentador desconfie de trapaça. E mesmo vendo que Jamal de fato jogava limpo, ele o denuncia à polícia. Isso porque o Sílvio Santos hindu é um baita filho da pu...mãe. Nada muito diferente do nosso. E é tentando explicar aos policiais de como ele sabia as respostas que sua vida vai sendo exposta, desde a sua triste infância até agora. E Jamal é, como diria a minha mãe, um guri bom. Tudo o que ele faz tem amor, soliedariedade, amizade. A narração de como virou órfão, sobrevivia de pequenos trambiques e furtos; de como se apaixonou por Latika, de como o destino os separou e a forma com que tentou de tudo para reencontrá-la comove o chefe da polícia, que o liberta. E comove a todos que lhe assistem também.
Algumas cenas bem chocantes me impressionaram. Por exemplo: aqui, os malandros se fingem de cegos para pedir esmolas. Lá, eles realmente ficam cegos. Lá, eles são capazes de mergulhar em um fosso de merda (não uma porcaria fosso, mas um fosso de fato repleto de merda) para tirar uma foto com o seu ídolo. Aqui, bem...já não posso dizer que alguns ocidentais babacas não fariam o mesmo. Mas pode até ser que o filme tenha um pouco de sensacionalismo, ao pensar que filosofias tão legais como o yôga, e pessoas tão bacanas como o Gandhi vieram da Índia. É claro, filmes sempre acabam fazendo um drama a mais para gerar comentários. Mesmo assim, se for para ir para lá, ainda prefiro ficar por aqui.
E o final é feliz. Relativamente feliz. Isso foi outra coisa que me chamou a atenção, já que normalmente os filmes que ganham o Oscar costumam ter um final trágico ou pessimista. Parece que final feliz é sinônimo de filme ruim. Mas dessa vez, não tinha como fazer uma escolha diferente. Até porque, eu acredito em finais felizes. É disso que a humanidade precisa: sorrisos de alívio após toda a desgraça. Cenas assim devolvem a esperança à vida das pessoas.

domingo, 4 de outubro de 2009

Pequenas coisas que achamos por aí

Eu realmente não tenho vergonha na cara. Passei o mês de setembro todo sem postar nada. Mas desta vez não foi a falta de tempo: mudei de emprego. Estou numa empresa onde trabalho de terça a sexta, seis horas por dia e ganho o equivalente à duas vezes a mensalidade de medicina na Ulbra. Com tanto tempo livre, resolvi tirar férias da web. Tá bom, é mentira. Não escrevi nada porque não tive tempo. Sim, a desculpa é velha, é esfarrapada, mas fazer o que? Ainda trabalho de segunda a sábado, às vezes de domingo a sábado, de nove a doze horas por dia e o que eu ganho mal dá para financiar um fusca. Em outras palavras, me sujeito a um sistema imundo, ou capitalista, temporariamente. Mas isso é só até meu cérebro se reorganizar; às vezes "é necessário dar um passo para trás para dar dois passos para frente". No entanto, morro de medo de me tornar um personagem de Sam Mendes: me acomodar com a vida e deixar de acreditar que os sonhos podem se tornar reais.
Mas agora deixando de lado o momento drama da minha vida, hoje eu assisti a Marley & Me. Um dvd emprestado, claro; nunca que eu ia gastar R$4,50 em um filme de cachorro. Menos ainda se tiver o Owen Wilson no elenco. No entanto, todos os comentários que chegaram aos meus ouvidos era de que o filme é surpreendentemente bom. Well. Não vou dizer que eu gostei, nem vou dizer que eu não gostei. Apenas não tive expectativas, portanto não tive decepções. É uma história aguada, no estilo comédia americana, sobre um cachorro muito, mas muito atentado, que desperta o melhor das pessoas. Fora o cachorro atentado, não enxerguei mais nada da sinopse no filme. O que vale mesmo são as frases finais, quando o Marley morre. São palavras piegas, porém puramente verdadeiras. Mas nem chorei. Tá bom, é mentira. Chorei. E ah! Não venham me dizer que estraguei o final do filme porque todo mundo sabe que o maldito cachorro morre!
Como o filme de hoje não rendeu, vou estender a conversa falando sobre o filme que vi na semana passada: Uma Vida Iluminada. Simplesmente brilhante! Ou, se me permitem o trocadilho, iluminado! A história é sobre Jonathan Safran Foer. Nem precisa dizer que é judeu...apenas acrescento que é norte-americano. Esse tal de Jonathan de fato existe e escreveu um livro "Tudo se Ilumina", no qual foi inspirado o filme. Não é uma história autobiográfica. Mas ouso dizer, mesmo sem ter lido o livro, que certamente é um pouco autobiográfico sim; mesmo que simbólico, em um nível mais complexo de raciocínio.
Jonathan, interpretado pelo Froddo, que aliás está ótimo, além de judeu, tem uma mania muito, uhm, peculiar: colecionar tudo o que vê e que o lembra uma situação ou alguém. Colecionar selos, moedas é normal. Bem na verdade é coisa para quem não tem o que fazer, porém é aceitável. Entretanto Jonathan coleciona dentaduras, punhadinhos de terra, pedaços de comida e outros artigos imprevisíveis para uma coleção. Antes de sua avó morrer, ela lhe dá uma foto de seu avô com uma mulher ucraniana que salvou sua vida durante o nazismo. Ele decide então conhecê-la e vai para a Ucrânia, com a ajuda de Alex Perchov e seu avô. O negócio dos Perchov é justamente ajudar judeus a encontrarem seus antepassados, apesar de acharem que judeus não servem para nada, a não ser para incomodar. E os três saem para a busca acompanhados da cadela demente Sammy Davis Jr. Jr. E a história vai sendo narrada por Alex, com seu inglês extremente precário (Jonathan vira Jonfen), deixando a coisa toda mais divertida. Além do avô, que rouba alguns momentos com a sua estranha raiva de judeus, promovendo a dúvida revelada ao final do filme: seria ele nazista ou mesmo um judeu?
A paisagem do filme é simplesmente exuberante. Campos verdes, plantações de girassóis. Nunca consegui plantar nem um girasol que chega a dar raiva de ver uma plantação inteira... Anyway, eles seguem viagem procurando uma cidade que nem sabem direito o nome, e muito menos onde fica. Menção à cena da batata: Jonathan também é vegetariano. Ele só tinha uma batata para comer, e ela ainda cai no chão. Identifiquei-me. E descobri que vegetarianos são discriminados no mundo todo. Se bem que eu já desconfiava disso...
Ao fim, encontram uma velhinha, que conhecia a garota da foto e que os leva ao tal do lugar. Uma velhinha completamente alienada do tempo e com uma coleção ainda maior que a do Jonathan. E assim se desenrola o fim da história, ao mesmo tempo dedusível e inesperado.
Falando assim, Uma Vida Iluminada parece um filme que já vimos antes, com uma historinha emocionante, que fala de judeus pobrezinhos que sofreram com o nazismo. Bem pelo contrário: é um filme de uma estranheza meticulosa, que mistura o tempo presente com imaginação e com lembranças do passado. E justamente essa bizarrice ímpar que me fez adorá-lo! Simplesmente a minha cara. Tanto que chega a dar uma invejinha de não ter tido a oportunidade de dirigi-lo. Além disso, é o tipo do filme que, ao terminar, ficamos refletindo sobre ele. Mesmo que não se chegue a conclusão nenhuma, dá um prazer indescritível tentar deduzir e interpretar suas metáforas.
Bem, acho que por hoje está bom. Na verdade poderia estar melhor. Aliás, sempre pode estar melhor, mas já isso é outro assunto. Até a próxima.

domingo, 9 de agosto de 2009

Um filme para poucos

Ir ao aeroporto para ver um filme é sempre uma coisa divertida. É claro que melhor seria se eu fosse para pegar um avião e sair de férias, mas, por hora, o cinema já me satisfaz. E se der tempo para desfrutar de um cafezinho com um croissant logo em seguida, enquanto se abana para os aviões que decolam, difícil de achar coisa melhor. E o bom é que o aeroporto sempre passa filmes bacanas, que nenhum outro cinema quis mais passar. É o caso de "Entre Os Muros da Escola", de Laurent Cantet. É o caso, também, do filme de que a cada 10 pessoas que vão vê-lo (se é que chega a tanto), umas 7 sobram ao final da sessão. Mas não as culpo. De fato, é um filme complicado de ser considerado como entretenimento.
O filme é um documentário sobre a rotina de escola pública na França. A história, que não chega a ser uma história, se baseia no dia-a-dia de François, um professor de francês. François é professor na vida real e escreveu um livro relatando suas experiências, que acabou inspirando o filme. O filme aborda diferentes situações e relações entre alunos e professores. Realações tais, que a princípio eram para envolver somente assuntos relacionados às atividades escolares, acabam se desviando e misturando a vida que transcede os muros da escola, construindo vínculos mais íntimos e fortes.
Todos os professores eram franceses. Já os alunos...um marroquino, um chines, um antilhano, outro africano, outra já não me lembro de onde. Esse é outro ponto forte do filme: os costumes culturais que divergem com a opinião dos professores, e mesmo entre os próprios alunos, criando situações de inveja, intrigas. Por que o chinês é mais inteligente e mais bem tratado que os outros, por exemplo? Mesmo assim, poucas vezes na vida vi algo tão imparcial: a razão nunca tende para um dos lados por completo; uma vez ela é do professor, outra do aluno. E cada um se sente incompreendido com a sua parte.
E todas as situações, a avaliação dos professores, os trabalhos, os conselhos de classe me remeteram muito aos meus tempos de escola pública aqui no Brasil mesmo. Uma escola daqui e outra no primeiro mundo não são tão diferentes no final das contas. Parece que somos todos seres humanos em qualquer parte do mundo. E as escolas também.

P.S. Saudade deste blog!!!!

domingo, 19 de julho de 2009

Just keep swimming

Coisa boa chegar em casa morta de cansaço de tanto trabalhar, tomar um banho e se atirar na cama. Não que a sensação de cansaço seja agradável, mas é que descansar é um dos maiores deleites do final de semana. E adoro, depois de uma semana de labuta, retornar ao lar-doce-lar, tomar uma ducha quentinha e apreciar uma televisão, comendo uma porcaria gostasa, em baixo das cobertas. Na verdade, apreciar não é bem a palavra quando me refiro a televisão... Para quem possui um mínimo de intelecto e gosta de relaxar com um bom programa (de TV...) sábado à noite, não tem vez. A Tv aberta, nem preciso comentar. Quando não é o Big Brother, são suas variações, como a Fazenda e derivados. A novela das 8 é a mesma há 20 anos, e ninguém nunca se deu conta. Além de outros programas de humor que ofendem a minha capacidade de rir das coisas. Mas pelo menos é de "graça". Acho que me irrito mais com a Tv a cabo, que tem trocentos mil canais que não passam nada que preste na hora que a gente esta vendo. Além de repetirem o mesmo filme o mês inteiro. E não sei por que a gente ainda paga por essas coisas. Porém, às vezes, a gente dá sorte: depois de uma meia-hora zapeando com o controle remoto, até que se acha alguma coisa boa. Nem que seja alguma coisa que a gente já tenha visto há um tempo a trás. Foi o que me aconteceu na semana passada: quando já estava desistindo de procurar algo, ia me render ao show do Roberto Carlos 50 anos, eis que eu achei o Nemo! Estava passando Procurando Nemo no canal da Disney. Um desenho animado que eu já vi umas 3 vezes acabou salvando o meu resto de sábado.
Procurando Nemo é uma das coisas mais fofas que já foram feitas. A historinha, todo mundo já deve conhecer: a aventura de um peixe-palhaço em busca de seu filho perdido (na verdade pescado), Nemo. Adoro desenhos animados! Até choro com alguns. Mas procurar o Nemo é sempre divertido e emocionante! Todos os personagens são especiais: os tubarões vegetarianos, a peixinha esquecida, as tartarugas (meio maconheiras), os peixinhos birutas do aquário. Foram todos muito bem estudados e feitos com perfeição. Além de serem dublados por muita genete bacana e conhecida, mas que a minha ignorância só permitiu reconhecer as vozes do Geoffrey Rush e da Ellen DeGeneres, como Nigel e Dori. Lembro-me bem que, na época em que fez sucesso, foi uma mania mundial. Quer dizer, mundial eu não sei ao certo, mas ao menos em Porto Alegre. Mas se é da Disney, deve ter sido mundial. Muitas criancinhas queriam libertar seus peixinhos de aquário (eu nunca vou ter um aquário!), e não havia quem não soubesse falar baleiês.
E além da história, o que mais me toca é o fato dela se passar no fundo do oceano. Desde criancinha, sempre fui fascinada pela vida marinha! Sempre achei que no mar é onde tem os animais mais estranhos, mais coloridos, mais interessantes de todos. E mesmo sendo só uma animação gráfica de computador, fico toda arrepiada de ver as tartarugas nadando juntas com os filhotes, ou a baleia, aquele monstro enorme, cantando e nadando tão delicadamente. E a arraia sumindo na imensidão azul... Tudo isso pode parecer bobo, mas o que eu sinto em ver a vida acontecendo é indescritível. É um amor sincero pela ordem natural das coisas. Chega a ser terapêutico. Juro que se eu não precisasse comprar comida para continuar vivendo, eu tirava biologia marinha. Quem sabe um dia, quando eu ganhar dinheiro sem fazer nada, eu tenha tenpo para ir ver uma baleia nadando em alto-mar, nadar com golfinhos e tirar fotos dos corais? Até lá, eu vou continuar a nadar.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Parênteses.



Abre parêntese. Antes que alguém venha me parabenizar pela criatividade do título do post anterior, ou, pior ainda, queira me acusar de plágio, aí está a propaganda de onde eu o retirei. Fecha parêntese.

Keep moonwalking

Antes que o mundo já esqueça da morte do Michael, gostaria de deixar registrado aqui meu sentimento de comoção com o ocorrido. Impossível não sentir uma pontinha de tristeza com a notícia "The King is dead". Mesmo aqueles que não gostavam de suas músicas ou achavam seus clipes cafonas, um dia, dançaram Thriller e tentaram fazer o moonwalker no meio da sala, quando ninguém estava olhando. Milhões de pessoas com os olhos fixos em seus pés: "como é que ele faz isso?". E como ele fazia aquilo... Sempre cresci ouvindo a mãe falar que ela era da época em que o Michael Jackson era negro. E se antes ele já deixava a saudade do Michael preto, agora deixa também a do branco.
Suas músicas e seus passos de dança fizeram parte da vida de muitas pessoas: animou muitas festinhas e embalou muitos namoros. Mesmo não sendo um amigo íntimo, ele fez parte das lembranças pessoais de muita gente. É por isso que sentiremos a sua falta.
Felizmente, não houve quem não o reconhecesse por seu imenso talento e o admirasse por ter sobrevivido à sua própria infância. Mas também não faltou quem o discriminasse; seja pela degradação da própria imagem ou por seus famosos escândalos. Porque a humanidade é assim mesmo: em vida, não pordoa ninguém. Mas a morte é milagreira e apaga com todo o passado ruim de qualquer pessoa. E aos que que ficam, ela deixa somente a melhor imagem daquele que partiu. Porque a humanidade é assim mesmo: diante da morte, a tudo perdoa.
Michael, que você encontre a paz. Sinceramente.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A humanidade está cega?

E se alguém na sua cidade ficasse cego de repente? E se toda a cidade começasse a sofrer de uma estranha doença em que todos ficam cegos? O que você faria? Seria solidário com os que estão sofrendo com a tal moléstia ou correria gritando para fugir da praga e se salvar? E se você for pego? E se você um dia abrir os olhos e for da escuridão extrema para a claridade extrema a ponto de nada ver? Qual a pior cegueira? A que a apaga todas as luzes, ou a que as acende, todas, ao mesmo tempo? E se as pessoas, tão apavoradas, tão inferiores, isolassem os infectados em um sanatório abandonado? Qual o melhor lado? O de fora? O de dentro? Conviver com o medo? Sobreviver com a conformidade? E se a pequena quarentena se tornasse uma sociedade independente, movida a instintos primitivos, onde os covardes, atrás de uma pistola, se autodenominassem rei? E se o soberano covarde puder matar apenas uma pessoa? Seria muito? Seria insignificante? Você resistiria? Se deixaria dominar? Ou você é o covarde? Afinal, qual a diferença do rei e dos cidadãos do reino, se todos são seres humanos, isolados e cegos? Para que criar a guerra se poderiam se unir? E você trocaria seu relógio de ouro por comida? De que vale o ouro em um mundo a parte, se não pode gastá-lo? E a sua dignidade? Você a trocaria? De que vale a sua dignidade se você está morrendo de fome? E ela um dia valeu alguma coisa, mesmo você estando de barriga cheia? E a sua esposa? Continuaria sendo sua esposa? Você ainda a amaria? Você saberia diferenciar as sensações alegres das tristes? E se no meio da cegueira, alguém pudesse ver? Quem você gostaria de ser? Um inválido que depende desse alguém? Um alguém que se torna escravo dos inválidos? E se o mundo lá fora sumisse de repente, e o sonho de liberdade viesse a tona, e você pudesse voltar para casa? Iria "tateando" o caminho sozinho? Levaria seus amigos? E se na rua você encontrar um grupo de cães devorando um morto enquanto um único cão senta-se ao seu lado para lamber seu rosto? Aqueles que devoram o defunto são cachorros maus? Este outro é bom apenas porque procurava o que comer no lixo? Você consegue comparar a humanidade a um desses cães? As pessoas regrediram, ou os animais evoluíram? Nós que agimos como animais, ou os animais que se humanizaram? É possível julgar alguém depois de tudo que você viveu? Tudo depende de uma escolha? E qual seria o novo conceito de belo? Faria diferença em ser loiro ou moreno? Olhos castanhos ou azuis? E se a beleza agora dependesse daquilo que você é? Você seria feio ou bonito? Você saberia diferenciar os feios dos belos apenas pela alma? Pela índole? Você realmente afirmaria com toda a certeza de que uma pessoa é bonita só por causa de uma atitude de amizade? E se você de repente voltasse a ver? Ela ainda seria bonita? O coração enxerga melhor que os olhos? Afinal, de que cegueira estamos falando?
E se a sua missão terminasse, e sua vida perdesse o sentido? Você se sentiria cego?
Ensaio Sobre A Cegueira de Fernando Meirelles.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Luto.

Hoje não vim aqui para falar de cinema. Já estou devendo uma boa postagem, mas, sem querer desprezá-los, não tive paciência para escrever. Há tempos, quero dizer algo sobre o Gran Torino, do Clint. Porém, ir ao cinema consciste de um ritual que vai desde a companhia até o que você comeu durante o filme. A pipoca esfriou rápido, mas a companhia estava boa. Juro que não foi a pipoca que um dia me fez chorar. Resumindo, é díficil lembrar certos acontecimentos (mesmo que agradáveis). E droga, eu tinha um ótimo texto! Mas, por enquanto, não vim para falar de cinema. Vim para falar da vida real, que por vezes se assemelha a arte nos seus pontos mais dramáticos.

Ele: -Então tu disse que tinha algumas coisas pra me dizer...
Ela: -Sim..
Ele: -Eu também. Fala tu primeiro.
Ela: -Não, fala tu.
Ele: -Não, fala tu primeiro. Faço questão.
Fazia 3 semanas que não se viam. Apenas trocaram algumas conversas por telefone, sem te amo e sem saudades. Ela disse que ele andava estranho.
Ela: -Estou preocupada.
Ele: -Eu realmente tenho andado estranho. Estou passando por um momento difícil, numa espécie de depressão.
Como ele podia não sentir vontade de abracá-la e beijá-la loucamente entre um te adoro e um senti muito sua falta? Ela, que era tão digna de tal ato, ficou esperando seus carinhos em vão.
Ele: -Estou passando por problemas financeiros, talvez tranque a faculdade, não consigo emprego. Preciso passar por isso sozinho.
Ela: -Estou passando por problemas financeiros, não posso pagar uma faculdade, não consigo emprego. Preciso muito de alguém agora.
Como estavam passando por situações tão parecidas e pensavam tão diferente? Como podiam ter reações tão opostas? Ele entrava em depressão, e ela sempre inventava um motivo para levantar da cama. Ele dizia que ela deveria ser forte, que ela não sofria tanto quanto ele. Levianas palavras a dele: jamais diga que você sofre mais; sofrimento não se mede. Sofrimento se sofre.
Ele: -Eu não queria jamais te magoar. E sei que já magoei...
Ela ouviu isso sob as luzes fortes do shopping e olhares curiosos tentando saber por que segurava o choro.
Ela: -Estou passando pelo pior momento da minha vida. Preciso do teu apoio.
Ele: -Tu não vai gostar de ficar comigo. Não posso te ajudar.
Ao fundo, tocava Ma Vie, de Alain Barriere, Hymne a L'amour, de Piaf, Viens Ma Brune, do Salvatore Adamo... Maldito centenário da França no Brasil! Maldição ter nascido no Brasil! Eram suas músicas preferidas. E agora, sempre que as ouve, ela põe a mão na boca, atravessa a garganda, arranca seu coração fora e o atira, ainda batendo, contra a parede na tentativa de fazer parar a dor. Mas não importa se está dentro ou fora do peito, o desgraçado insiste em doer.
Ela: -Mas a vida é assim mesmo: venturas seguidas de desventuras. E não podemos prever quando, como ou quanto tempo cada estágio irá durar. Se toda vez que algo de mal lhe acontecer, tu renegar a companhia das pessoas queridas, então tu irá magoar todos que gostam de ti. Para sempre.
Assim disse ela, agarrada a um fiapo de esperança; o qual ele arrancou cruelmente:
Ele: -Eu sei. Mas não posso mudar. Não é nada contigo; apenas não consigo levar um relacionamento adiante. Acho que quero passar por isso sozinho.
Num raciocínio frio, as pessoas podem afirmar: "não se pode obrigar ninguém a gostar de alguém." Mas quem a conhece afirmaria com mais êxito: "como pode não gostar dela? Tão bonita! Tão interessante!". Só que ser bonita e interessante parece não bastar.
Ela: -Essa é a tua decisão final?
Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça.
Ela: -De todos que me largaram, tu foi o que mais me machucou: os outros não passaram de orgulho e amor-próprio. Mas tu, era sentimento...eu te odeio!, garoto infantil, garoto mimado!, pensou ela, em uma fração de segundos, em dizer a ele. No entanto, tudo que conseguiu fazer foi dar as costas, ir andando, deitar do banco de trás do carro e chorar. Chorou como uma criança chora quando o mar leva embora seu castelo de areia. Droga! E o inverno que passariam juntos no edredom? E o presente que ela havia comprado para o dia dos namorados?
Como conseguimos ser fortes com a morte, com a guerra, com a miséria que nos cerca; e como uma história de amor banal quase pode nos destruir? Ou ainda, será que ele tinha noção da mudança irreversível que causara na vida dela? Ela não consegue mais ouvir U2, nem ver um filme do Woody Allen, nem ver a cara da Scarlett Johansson. Tudo lembra ele. Tudo dói. E todos os lugares sem ele parecem não ser mais os mesmos lugares.
Ela, que na semana passada, rezara para que tudo se ajeitasse em sua vida, agora, não acredita mais em Deus; por mil diabos, Ele a viu sofrer e não fez nada. Ser vegetariana pra que? Algum dia as vacas e as galinhas se reuniram para lhe fazer algo de bom? E as pessoas que lhe dizem: "você é muito jovem. Não há quem não tenha sofrido por amor". Oras! Não há insulto pior! Só porque o resto das pessoas já sofreram por amor, ela também tem que sofrer? Desde quando isso é uma lei? Desde quando pensar na dor dos outros diminui a nossa própria dor? São todas pessoas mesquinhas que não superaram suas próprias desilusões e se consolam ao ver a decadência dos outros. E o pior: não faz sarar a ferida. Ela chora enquanto ele vibra com a goleada do Grêmio. Ele se diverte com os amigos enquanto ela chora. Sim, ele não merece suas lágrimas. E ela? Merecia sua rejeição? A vida é injusta: ele dá continuação a sua vida enquanto a dela não faz mais sentido.
Mas apesar de tudo, ela pensa que gostar de alguém não é vergonha. Também não é vergonha amar e não ser amada. Mas ver que as mesmas fotos, que ela ainda guarda com carinho, ele já as pôs na lixeira, fácil assim, faz parecer que amar sem ser correspondida seja a coisa mais humilhante do Universo. Mas era "ele quem entrava em depressão, e ela quem inventava um motivo para levantar da cama...".
Se alguém aqui já sofreu por amor, por favor, jogue a primeira pedra. Dói menos.

Quanto ao Gran Torino, limito-me a dizer que é um bom filme. Quem quiser, que o veja.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Déjà vu

Às jovens senhoras que foram ver a repetição do casal Leonardo DiCaprio e Kate Winslet ("dessa vez dá certo!"), talvez tenha sido um choque. Em Foi Apenas Um Sonho, o casal Titanic continua com a mesma química, ou até maior. A expressão facial de Kate e a interpretação dramático do DiCaprio estão impecáveis. Já o romance, afundou junto com o navio e congelou em 1997. Sam Mendes fez uma versão melhorada e, arrisco dizer, mais realista de Beleza Americana (que é dele também). Parece que Sam, de fato, odeia famílias. Ao menos as americanas.
O filme principia com o jovem casal, os Wheelers. E, como todo casal jovem, são sonhadores e consideram-se especiais. Ambos têm grandes ambições de fazerem o que querem da vida, sem se importar com as opiniões alheias. Para tanto, mudam-se para Connecticut. Frank vende seguros. April é dona de casa. Pretendem viver essa vida pacata até se assegurarem financeiramente e, então, finalmente, tornar realidade seus sonhos e altos ideais. Francamente, eu suponho que seja esse o princípio do filme. Isso porque a pateta que vos escreve confundiu-se com os horários e chegou uns 10min atrasada no cinema. Mas é uma suposição quase segura. Ao menos, é uma boa suposição.
No entanto, aquilo que era para ser temporário, virou permanente. Mais ou menos como aquele remendo de durepox de um óculos velho, que serviria até comprar um novo e fica para a vida toda. Mas diferente de um insignificante remendo, um emprego e uma casa compõe quase tudo o que existe na vida. Frank era para ser um vendedor temporário, e April, uma dona de casa de passagem, mas os dois acabam acomodados, esquecendo e abandonando os antigos planos. E os Wheelers e seu casal de filhos tornam-se a família perfeita. A típica família americana. E a típica família americana não é nada perfeita: Frank inicia um caso extraconjugal com uma secretária, e April começa a sentir o desgaste da vida ordinária que leva.
Em meio a todo esse caos conjugal, April tem a lucidez de retomar os planos de mudar de vida e decide viajar com o marido para França. Eles iriam de navio (não, de novo não!) até a Europa com a família, e ela trabalharia enquanto ele ficaria em casa por um tempo, superando os limites dos conceitos sociais da época. Por fora, Frank aceita a idéia, por dentro, mantém-se relutante. Porém, o momento de lucidez de April é visto como uma insanidade por todos. Eu, diria simplesmente que é pura inveja de uns e moralismo hipócrita de outros. O único que parece ser conivente com a idéia de tentar viver e não sobreviver de April é o problemático filho do vizinho, Michael (cena que vale a pena ver com atenção).
Em meio ao planejamento da viagem, Frank recebe um aumento e descobre que April está grávida. Frank decide não viajar (sorte do DiCaprio, azar da Kate) para melhor sustentar o filho. Mas é claro que o aumento do salário e a gravidez da mulher encobrem os verdadeiros motivos. Na verdade, ele tem medo de mudar. Tem medo de trocar o certo pelo inseguro. Ele tem medo de viajar e não arranjar outro emprego. Ou pior: tem medo de não saber fazer outra coisa que não seja o que já faz a tanto tempo.
Inconformada, April decide fazer um aborto, gerando inúmeras discuções perturbadoras com o marido, o que é, na verdade, quase o filme todo. April quer seguir o caminho da coragem e tentar viver, e Frank, o do medo de não conseguir a vida almejada, ou ainda, perder o pouco, ou tudo, o que já tem. Enfim, parece que os Wheelers, que se consideravam especiais, não são assim tão diferentes. São apenas pessoas normais. Pessoas que se acomodaram com suas vidas ordinárias. Pessoas que ficam entre o mundo aparentemente seguro que vivem e o mundo que pode tornar real os seus sonhos, mas que também é cheio de incertezas e convenções sociais que podem te engolir. Pessoas que não sabem mais como sonhar. Semelhanças com a sua vida são meras coicidências. Ou não.
Parece mesmo que o casal Titanic não foi feito para ter um happy ending.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Um pequeno filme

Enfim, finalmente o ano realmente está começando: janeiro e fevereiro foram só um aquecimento. As águas de março vêm fechando o verão e abrindo mais uma temporada de aulas, muito trabalho, stress e muito stress. Raios de vida moderna! Daqui a pouco já é Natal; parece que a Terra passa a girar mais rápido a partir de março. E como tempo é dinheiro, e eu não tenho nenhum dos dois, as atualizações do blog ficam cada vez mais espaçadas. Portanto, já peço desculpas adiantado.
Para tentar amenizar a velocidade enlouquecida com que a nossa vida passa, damos uma pausa no tempo normal e criamos um momento particular de aconchego e longe de preocupações. Eu costumo entrar na minha bolha e ver um filminho bem descompromissado. E, recentemente, em uma dessas sessões, descobri que o bom da Irlanda não está somente nos pubs: parece que os irlandeses tem uma mãozinha muito habilidosa para a sétima arte também. E se quase 8 meses de blog não são o suficiente para acreditar na minha palavra, sugiro que vejam com seus próprios olhos. Especificamente, recomendo que assistam a "Apenas Uma Vez", de John Carney.
Apenas Um Vez é um musical contemporâneo filmado em Dublin, o que dá uma paisagem melancolicamente bela à história. A maneira como é filmado e o próprio manuseio da câmera geram um efeito de documentário de televisão. As cores em tons pastéis, que se misturam num ameno degradê, contrastando com vermelhos vibrantes, por vezes, dão a impressão de ser uma pintura. Aliada a toda essa exibição visual, está a essência do filme: a música. Contrariando a idéia de que é muito simples se comunicar através da música, eu lhes digo que é muito simples transformar um musical em potencial em um grande dramalhão ou ser simplesmente uma reprodução de algum espetáculo da Broadway. Por isso mesmo tiro o meu chapéu para toda a trilha sonora, na qual estou viciada. Meu vício mais saudável. E o mérito é entregue a Glen Hansard, que além de atuar no filme, compôs a maioria das músicas. Abre parêntese. Os protagonistas, Glen e Markéta Irglová, bem na verdade, não são atores, são músicos. Glen é vocalista da banda The Frames. Fecha parêntese. Outro aspecto bastante comum em filmes que falam sobre músicos é mostrá-los como pessoas perturbadas, incompreendidas e que passam horas conversando com os duendes depois de tomar, fumar, ou seja lá o que for, umas e outras. No entanto, neste filme, são retratadas apenas pessoas comuns, que buscam inspiração em suas próprias vidas.
O roteiro do filme é muito simples: um músico de rua, qua trabalha consertando aspiradores de pó com seu pai e que sofre por ter perdido a mulher que amava, conhece uma imigrante tcheca, pianista, mãe, que o estimula a tomar pequenas atitudes para mudar sua vida e recuperar seu amor. Um japonês, em um grão de arroz, consegue escrever algo mais refinado. Confesso que eu mesma, se não o tivessem me indicado, teria o maior preconceito em locar um romance com um roteiro que cabe em uma linha. Mal eu sabia da profunda sensibilidade que aquela caixinha carregava.
Ele carrengando um violão nas costas e uma experiência traumática de perder a namorada, ela arrastando um aspirador de pó azul pifado caminhando pelas ruas de Dublin, separados por um amor que nunca se concretiza. Não sei nem dizer quais os nomes das personagens. Na verdade, acho que nem nome elas têm. Ambos entram em uma loja de música e improvisam uma composição dele: aí está a cena mais fabulosa, que traduz por completo toda a sensibilidade de que falo. Ela tentando sintonizar-se com os acordes dele. E o jogo de vozes, o violão combinado com o bom piano soam da TV e flutuam até o espectador, abraçando-o e suspendendo-o no ar. Take this sinking boat and point it home. Até mesmo a mais insensível das criaturas que não chorou quando a mãe do Bambi, ou quando o Rei Leão, morreu, se emociona. É uma sensação quase indescritível.
Para encerrar, vou fazer um comentário ordinário: Apenas Uma Vez é um filme para se ver muitas vezes. Além disso, outra palavra vai vir a minha mente quando ouvir falar na Irlanda além de U2: cinema.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Walküre

Olá, foliões e foliãs! Tenho um comunicado muito importante a fazer: carnaval não é feriado! Ao contrário do que todo o brasileiro pensa, pela lei, não é feriado. Mas como é de costume o Brasil parar no carnaval, e o calendário concorda, faz de conta que é feriado. E por pura coicidência, este ano o festival do Oscar foi junto com a festa da carne. E se tem algo em que eu sou mais alienada do que o carnaval, é o Oscar. Raramente concordo com os vencedores, muita gente boa fica de fora, é tudo combinado! Bem na verdade, foi Oscar no resto no mundo; aqui, o povo tava espremido na praia ou cantando axé e correndo atrás de um trio elétrico. Melhor assim. Daí não me sinto a única pessoa a viver numa bolha em relação a isso. Eu fiz o que faço sempre: fiquei em casa, mandei o piêrro cacete ir tomar sorvete com o arlequim e esperei passar.
E assim como os brasileiros nunca cansam de pular carnaval todo o ano, parece que os cineastas nunca cansam de fazer um novo filme sobre algum episódio do nazismo. E o filme da vez é "Operação Valquíria", que traz a história real e praticamente desconhecida de um golpe contra a alemanhã nazista de Hitler. A peça chave do golpe é o corenel alemão Claus von Stauffenberg, interpretado por Tom Cruise. Contrariando a maioria dos filmes que mostra os alemães mauvados que pegam as criancinhas para fazer sabão, Operação Valquíria revela um outro lado de alguns oficias nazistas, já que nem todos apoiavam a Alemanha de Hitler. Aí vai uma dica: não vá ao cinema com sono. Os primeiros istantes do filme são bem monótonos e desinteressantes. Aos poucos, ele vai tomando forma e começa a prender um pouco mais a atenção. Mas não muito. Se eu estiver errada, que algum historiador me corrija, mas a princípio, parece ser uma reconstrução quase perfeita do ocorrido. E é exatamente isso que o torna um tanto desinteressante, pois são reproduzidos aspectos muito técnicos. Quem conhece um pouquinho a história, sabe que o golpe não deu certo. É nisso que certos filmes de fatos históricos pecam. Como já se sabe o final, é preciso criar uma trama que estimule o espectador a torcer por alguma coisa. É claro que não deve ser feito nada que mude completamente a história; mas ser muito fiel a ela, pode prejudicar a emoção de ver o filme. Se o Leonardo DiCaprio pode ser o Rei Sol algum dia, por que não colocar uma pimentinha a mais na Operação Valquíria?
Tudo começa quando o coronel Claus Stauffenberg e alguns outros oficiais resistentes ao reinado Hitler decidem se unir e trair o governo. O plano mirabolante do Cebolinha para derrotar a Mônica, ou melhor, do coronel Stauffenberg para derrubar o nazismo de Hitler era matar o próprio e aplicar o golpe usando a Operação Valquíria. A idéia era matá-lo utilizando uma bomba. Talvez aí esteja o único momento tenso do filme. Como sabemos que não é dessa forma que o Hitler parte desta para uma pior, ficamos curiosos para saber em qual parte o plano dá errado. O que talvez seja o mais decepcionante: saber que a bomba explode na cara do führer e ele só cai de bunda. Mas também, era uma bombinha muito da mixuruca; só derrubou uma mesa e fez voar alguns papéis. Dá um tubinho de filme com vinagre e um sonrisal pro MacGyver, que ele faz melhor. Entretanto, inicialmente o plano funciona: Hitler é dado como morto e a operação começa. Obviamente descobrem que ninguém morreu, que é tudo engodo. E o fim de seus traidores, nem precisa dizer qual foi.
Em contrapartida a todos esses cuidados para tentar alcançar a perfeição, tem uma coisa que muito me intriga: o filme é sobre um fato alemão, filmado na Alemanha, com personagens alemães interpretados por atores americanos e falando inglês. Mas tudo bem. Se Luke Skywalker na República galáctica falava inglês, por que Hitler também não falaria? Além disso, Tom Cruise está ótimo como sempre. Mesmo sem uma mão, um olho e mais dois dedos... Nesse filme, ele larga um pouco a sua pose de galã e encarna um oficial nazista e cede as atenções ao plano Operação Valquíria em si. Aliás, todo o elenco está maravilhoso. Cada um cumpriu com maestria o papel de dar vida a personagens reais. No entanto, nenhum deles se destaca; nem mesmo Tom Cruise. Achei que faltou um pouco de sentimentalismo, de frases impactantes. Como o próprio coronel disse "queremos que o mundo saiba que nem todos eram como ele". Talvez se a idéia da frase tivesse sido desenvolvida e enfatizada ao longo do filme, nos pegássemos torcendo por um final feliz, mesmo sabendo que ele não viria.
Mesmo com o elenco de primeira, Operação Valquíria não é o supra sumo dos filmes de nazismo e afins. É bem provável que tenham sido o elenco que salvou o filme. Porém faltou alquele friozinho na barriga, aquele personagem forte, que se sobressai. Contudo, não é um filme ruim. Quem gosta de história é bem provavél que vá gostar.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Anticlockwise

Antes de começar, já aviso que o texto é longo tanto quanto o filme que o inspirou. Normalmente resumo ao máximo, mas, desta vez, as palavras fizeram um motim, e perdi o controle sobre elas.
O Curioso Caso de Benjamin Button é um filme baseado em um conto escrito por Scott Fitzgerald. O conto tem cerca de 28 páginas, enquanto o filme rendeu quase 3 horas, gerando uma certa polêmica. Uns acharam muito comprido, muito parado e com muitas cenas irrelevantes. Eu, particularmente, só achei comprido. E o fato de ser um filme muito parado, pra mim, não é defeito; ao contrário, muito me agrada. Até porque, é um filme parado e não monótono. Longe disso. Anyway. Outra polêmica ocorreu entre os fãs do conto original, em que o bebê nasce, além de velho, já falando e lendo, o que não ocorre no filme. Mas eu concordo que essa idéia deve ficar somente na nossa imaginação. Dar vida a um bebê com corpo senil já pareceu coisa do capeta; se falasse e lesse enciclopédias, ficaria medonho! Acho que o Fincher e seus roteiristas estão de parabéns pelo ótimo trabalho. Contudo, sendo comprido, ou não, fiel ao conto, ou não, o que ninguém pode discordar é que Brad Pitt e Cate Blanchett estão impecáveis.
Benjamin Button é mais um daqueles tipos de filmes colcha de retalhos: um tema central composto por pequenos episódios que abordam diversos assuntos. Assuntos estes, que normalmente levariam um filme todo, ocupam pequenos instantes ao longo do filme. E cada virada de cena pede uma reflexão. E, obviamente, o tema principal é a tão temível passagem do tempo. Eu mesma confessei por aqui que eu e minha juventude temos medo que nos pelamos desse tal de tempo que passa depressa de mais...
O tempo presente se passa em um hospital, onde Daisy está passando por seus instantes terminais, enquanto a filha, Caroline, lhe lê o diário de um homem muito especial: Benjamin Button. A primeira passagem do filme é logo a minha preferida: um relojoeiro que constrói um relógio para a estação de trem que gira ao contrátrio. A intenção é trazer de volta todos os filhos perdidos na guerra; que estes levantem de seus túmulos e voltem para os braços de seus pais. Só nesses 5 min inicias, dá para dar um nó na garganta (ou como disse a Sara no último comment, "é um tapa na cara"); por menos tempo de vida que tenha a pessoa mais jovem do público, esta com certeza também já deve ter tido o desejo de poder voltar no tempo e recuperar alguém especial, ou reparar um erro grave que fosse.
No dia em que a guerra acabou, nasceu o filho do sr. Button, custando a vida da mãe. O pai prometeu a finada mulher que cuidaria do filho, no entanto, ao vê-lo, levou um susto tão grande que saiu correndo e o abandonou num lar para idosos (olha que coicidência!). Seria uma cena cômica se não fosse trágica. Enquanto todos o enxergam como uma aberração (ou pensam que esse é o rosto do bebê de Rosemary, afinal), a doce cozinheira Queenie o vê como um milagre e o adota. E o chama Benjamin.
Ver a curiosidade e a astúcia de uma criança que não corresponde a um corpo de movimentos rígidos e artrites chega a ser tragicômico. E assim mesmo, Benjamin se adapta àquele ambiente repleto de velhinhos e vai crescendo e "juvenescendo". Ainda na sua infância (ou velhice), ele conhece Daisy, a netinha de uma das inquilinas do asilo. E logo já se separam, pois Benjamin, querendo aproveitar o vigor que lhe nasce a cada manhã, decide viajar de porto em porto com o capitão Mike, que diferente da maioria, não o vê como um anormal e inválido. E ele descobre o amor (com uma mulher casada, é verdade, mas não deixou de ser menos amor). A amizade. Aprende que nunca é tarde para fazer aquilo que se ama, ou simplesmente para recomeçar tudo outra vez, não importando quão velho você esteja ficando, ou, nesse caso, quão jovem. Ao voltar para casa, Benjamin reencontra com Daisy, que agora é uma belíssima bailarina (menção ao grande talento de Cate). Benjamin também reecontra com seu pai e, enfim, descobre que é um Button.
A essa altura, a idéia de nascer velho e caminhar para a mocidade parece ser mais atraente do que nunca: após toda uma vida de trabalho e esforços, ter cabelos cada vez mais vistosos, a pele mais fime parece uma recompensa. Entretanto, tudo lá tem seu preço. Enquanto Benjamin se desfaz da velhice, esta vai alcançando seus entes queridos. E junto com ela, os alcança também a morte, que os leva consigo e não volta mais. Ele percebe que a humanidade é uma rede tecida com a vida das pessoas que se tramam, e que o acaso, quando inventa de aprontar das suas, pode mudar uma vida completamente só porque alguém, do outro lado da cidade, não ouviu o despertador tocar essa manhã. E nem sempre muda pra melhor. E não adianta discutir com o destino; ele ignora nossos xingos. Certas acoisas acontecem quando têm de acontecer e na hora que têm de acontecer.
Nesse meio tempo, Benjamin e Daisy vivem uma história juntos, e tem uma filhinha. Se antes um era muito velho e a outra muito jovem, já agora estão quase alcançando a mesma idade e são perfeitos um para o outro. Muitas das cenas são embaladas com músicas de época, com os trompetes e cornetas característicos. E não sei por que, mas sempre que ouço esse tipo de música, me dá uma saudade...saudade daquela época. O que é puramente rídiculo, já que não se pode sentir saudade de uma época em que não se viveu. De qualquer forma, os dois acabam se desencontrando novamente. As rugas que somem de um rosto, aparecem no outro. Benjamin não suporta a idéia e desaparece no mundo, retornando anos depois, quando já está na sua infância. Uma alma senil em um corpo infantil. Ele desaprende a andar, a falar e sua vida vai esvaindo-se em um corpo de bebê.
Ao sair do cinema, não dá pra deixar de perceber a emoção das pessoas. Mas uma delas, me chamou particular atenção: um senhor, já de idade, que ficou sentado, com uma feição melancólica, até todos saírem da sala. Acredito que a história tenha mexido e revirado muitas lembranças em sua memória; relembrado todos os medos que sentiu, ou ainda sente, todos os seus amores e aventuras até chegar em sua velhice. Ou talvez estivesse apenas tirando um cochilo, não vi direito.
Aí está. O tempo. Por mais que um relógio gire no sentido anti-horário, por mais que nos agarremos na teoria da relatividade de Einstein, que acreditemos piamente que as horas e os minutos são apenas convenções, é impossível fugir de seus efeitos e conseqüências. Não importa se nossos filhos morreram na guerra, ou não; o tempo não tem pena de nós e não volta atrás. Ele é extremamente autoconfiante; segue sempre adiante, remediando as dores. Ele não liga se o momento é triste ou feliz, ele simplesmente passa e o leva embora. Leva embora o colágeno da nossa pele, a rapidez dos nossos neurônios, a cor viva dos nossos cabelos e, muitas vezes, os próprios cabelos. E por que temê-lo tanto afinal? Por que não acompanhá-lo? Se conseguimos acompanhar a tecnologia de celulares e computadores que mudam de 5 em 5 minutos, por que não conseguimos acompanhar o tempo, já que ele é sempre o mesmo e mais velho que Jesus Cristo, e simplesmente aceitar os cabelos brancos? No fim, não importa se nascemos jovens e envelhecemos, ou se nascemos velhos e ficamos mais joves. Os dois caminhos acabam nos entregando a dependência, a um babeiro e às fraldas. E o destino é único: a morte.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Preliminares

Chove em PoA. Finalmente São Pedro atendeu a prece das florzinhas de jardim. Se soubesse que o Sol daria uma folga, teria saído hoje e não ontem. Mas não sabia. Saí ontem. Uma delícia de calor que cheirava a enxofre do inferno. Cinco min parado no sol equivale a 5 horas correndo, e tudo parece mais longe quando se está a pé. Mas como uma boa capricorniana obstinada, não me deixei intimidar por míseros 32°C. Além do que, Benjamin Button suplicava-me a semanas para assistir-lhe. Resolvi, então, atendê-lo, e nem os aerolitos do Chapolin teriam me impedido.
Após caminhar uns 35, 40 min até chegar no shopping, larguei minha bolsa no chão, deitei no piso gelado e esperei o ar-condicionado secar meu suor. Isso nos meus delírios, é claro. Bem na verdade, só tive coragem para procurar um banco e me recompor. O resto deste parágrafo é irrelevante; portanto, o amigo pode ir direto para o próximo se assim o preferir. Prometo não ficar chateada. Prosseguindo, nunca havia ido ao GNC do Iguatemi. Foi um momento emoção no meu dia. As poltronas são numeradas: mais parecia um teatro. O carpete tem consistência de grama, e as poltronas são imensuravelmente espaçadas, e a fileira da frente fica abaixo dos joelhos; dá pra esticar as pernas sem encostar na próxima fileira, e nem o maior cabeção do mundo nos atrapalha. Fora o porta copos, que mais parece um porta baldes. Ou seja, é o cinema de Itu.
Após todo esse deslumbramento, o filme começa. Quase 3 horas de duração. E posso dizer que essas quase 3 horas valeram cada gota de suor vertida para chegar até ali. As verteria de novo em dobro se fosse necessário. A história é marcante e bastante intensa. E por ser um filme longo e rico em detalhes, os comentários e reflexões a respeito dele me renderam bastante. De cara quando assisti ao trailer, me recordei não do conto de Fitzgerald, o qual é adaptado, mas de uma reflexão de Charles Chaplin. Algo mais ou menos assim:
"Coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara pra faculdade. Você vai pro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?"
Na verdade não sei se foi ele mesmo quem escreveu. Sabe como é essa tal internet...a gente vive recebendo textos com erros gramaticais grotescos e pobre em vocabulário assinados por um tal Veríssimo... Aliás, se alguém souber de fato se foi ele ou não, por favor me avise.
E para ser sincera, ainda não consegui organizar bem as idéias para falar a respeito do filme. Cada vez que passo o texto a limpo, aumento mais um pouco. Por isso, hoje só vim dizer o quanto esse filme é fascinante, antes de chegar as vias de fato. Acho que ainda preciso de um dia, ou dois, para apresentar algo definitivo. Por enquanto, parece que as plantas não são levadas muito em consideração, e o astro-rei já mostra seu rostinho ardende de novo...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Diga sim um milhão de vezes

Perguntaram pro Jim Carrey se ele estava disposto a fazer mais um filme de comédia, com uma historinha simples e boba com um final previsível, e ele disse SIM. Yes Man, ou Sim, Senhor, é o novo filme do infinitamente engraçado Jim Carrey. O filme é uma adaptação das memórias do autor Danny Wallace. Se você riu com o O Mentiroso, provavelmente vai rir com este também. Ou não.
Jim Carrey faz o papel de Carl. Sabe quando te convidam para uma festa que você já decide que não vai se divertir? E sempre dá a desculpa que estará muito ocupado com o trabalho, ou que vai estar fazendo algo dezenas de vezes mais divertido, normalmente com muita adrenalida, quando na verdade você vai estar no sofá da sua sala vendo TV e comendo com um abrigo velho de mendigo? Então. Esse é Carl. Ele age assim no tempo integral da sua vida. E para deixá-lo com uma aparência mais miserável ainda, Carl é separado e sua ex-mulher está muito bem namorando, enquanto ele não tem nada parecido.
Em outras palavras, Carl é um no man. Eis que então surge um amigo. Sabe aquele seu amigo que some e reaparece do além, revigorado, que mudou de vida depois de conhecer o verdadeiro segredo das coisas e que quer que toda a humanidade faça parte disso com ele? Então. Esse é o amigo. Ele é um yes man. E é claro que ele convida Carl para fazer parte disso, que age como alguém que recebe um panfleto de propaganda de boates com moças que se sustentam de maneira duvidosa: ele pensa "até tá que eu preciso...", mas guarda o panfleto no bolso mesmo assim. E depois de ser criticado pelo seu melhor amigo pelo seu estilo de vida, ele resolve "ver" como é uma palestra do yes man. E é uma das cenas mais engraçadas do filme! O criador do yes man faz uma alusão aos autores de livros com idéias mirabolantes de auto-ajuda; e a palestra, a seitas religiosas em que os membros ou são fanáticos ou não são membros. Nada contra quem lê livros de auto-ajuda ou participa de seitas. Se esse for o seu caso, por favor não se ofenda. E mesmo não acreditando, Carl faz uma promessa consigo mesmo de dizer sim à vida. E claro, igual as resoluções de ano novo, é uma promessa da boca pra fora. Mas ele acaba cumprindo. Primeiro, para que haja um bom andamento do filme, e segundo, porque toda vez que ele diz não a alguma coisa, algo terrível acontece.
E dessa forma Carl se torna um verdadeiro yes man. Ele arranja uma namorada (a meiga Zooey Deschanel), é promovido no trabalho e tudo dá certo. Surpreendente... É claro que de repente tudo volta a dar errado, então Carl aprende uma lição e tudo volta a dar certo no final. E o que aprendemos com tudo isso? Não precisa dizer sim para tudo, basta dizer sim às coisas que realmente queremos dizer sim (ai, por que não disse antes?!). É o tipo de lição que na hora é bonita, mas na prática, ficar de abrigo no sofá parace ser bem mais tentador.
Sei que não costumo tomar o tempo do meu leitor com o resumo longo do filme, mas acontece que mesmo sendo meio estúpido, ele é incrivelmente contagiante. E de qualquer forma, já me sentia uma yes ma'am só por ter decido ver um filme desses. E mais ainda por um momento particular que eu passei naquele instante. Mas chega de falar de mim. De qualquer forma, é o Jim Carrey fazendo o que ele faz de melhor: pessoas rirem. Vá ao cinema; seja um yes man.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

God Bless America

Vinte de janeiro de 2009. Dia que entrará para a história. E todos que aqui estão neste momento viveram esse dia. Finalmente este dia chegou. O dia em que o presidente negro dos EUA sai dos filmes de ficção (e do seriado 24h...) e adentra o mundo real. E não demora muito, ainda farão filmes de ficção contando a história real sobre esse dia e sobre a vida de seu Barack Hussein Obama.
Os EUA, como já se é sabido por todos, é a maoir potência do mundo em todos, ou ao menos nos principais, sentidos, inclusive, cinematograficamente. Não digo que os melhores filmes sejam americanos, mas os filmes que mais agradam a população mundial em massa são americanos. E sempre achei que há um certo sentimentalismo manipulador de lágrimas e orgulho de ser americano em filmes que retratam a história dos EUA. E como eles conseguem fazer a gente chorar... Mas hoje, acompanhando pela televisão a posse do novo dono do mundo, pude constatar que aquilo que se vê em filmes com temas polícos, aquele patriotismo vivo, é real. Dá até gosto de ver um povo que tem orgulho em ser patriota. E agora, com esse momento de renovação do poder americano, não faltarão roteiros para os próximos longos do gênero. A começar pela vida do Obama.
Nascido nos EUA, negro, com um dos nomes de origem árabe, canhoto, sua mãe era branca, antropóloga, e sofreu muito com a ausência do pai. Do quase anonimato, deu um salto napoleônico em sua carreira tornando-se presidente em bem menos tempo do que todos imaginavam. E o dia de sua posse...por si só, já parecia um filme! Lindo de se ver a banda do presidente tocando, pomposidades para todos os lados, contudo de uma maneira muito simples, com discursos muito sucintos. O discurso muito bem estruturado, servindo como uma injeção de esperanças para a auto-estima americana, e sem deixar de esquecer que os EUA não se tornará um país de cordeiros, mas que voltarão a ser um país civilizando, que dá para conversar. E tudo isso de um modo sinuoso tipicamente americano, sem antíteses barrocas. E a trilha sonora...Sabe aqueles momentos da vida que merecem uma trilha sonora mental? Pois este tinha uma de verdade! A extraordinária Aretha Franklin cantando My country,'tis of thee.
E para complementar o filme com pequenos detalhes, não pode ficar de fora o episódio do senador Kennedy, que passou mal neste dia. Ed Kennedy tem um tumor inoperável no cérebro, e, mesmo assim, fez um esforço para ir ver o Obama em sua posse. Frase de cinema: "Meu único objetivo de vida agora é ir ver a posse de Obama." (Ed Kennedy) E está pronto o filme. Ainda nem foi feito, mas já estou chorando. E o mais emocionante, é pensar que meus filhos irão vê-lo, e eu direi "mamãe viveu este dia, meu filho". Uma emoção sem tamanho ver esse marco histórico, da minha casa, situada na rua cujo nome é uma feliz coicidência: Martin Luther King.
Só para finalizar com toque de mestre, palavras do reverendo: "(...) o dia em que os amarelos serão legais, os vermelhos serão bacanas, e os brancos abraçarão o que é certo." Por isso os americanos sempre se promovem a nação de liberdade que triunfa sobre a tirania. Por isso, quando eles querem, eles nos fazem chorar.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A Dupla Vida de Vanesse

Então este dia chegou. O dia em que a Terra dá sua vigésima volta ao redor do Sol desde o dia que nasci. Sempre pensei que fazer 20 anos fosse coisa da mídia, mas hoje vejo que não. Fisicamente, ainda estou como se tivesse 18. Mentalmente, ainda permaneço com a cabeça de uma velha rabugenta de uns 80. Mas psicológicamente, pensar que duas décadas passam rapidinho, que daqui a pouco virão mais duas décadas, que o tempo escorre entre meus dedos, que talvez não dê para fazer tudo o que planejei para mim até o fim de uma única existência, me assusta e muito. Mas o fato de ainda não ter conseguido fazer tudo o que planejei, não quer dizer que tenha feito poucas coisas da vida. Tão pouco quer dizer que escolhi passar por certas situações que já passei. Pensando nisso, fiquei tentando adivinhar: se a minha vida fosse um filme, que filme ela seria?
Um romance não poderia ser, pois capricornianos são pouco efusivos. Um thriller também não (apesar de existirem relatos sobre poltergeists na minha sala). Nem vou citar aventura, suspense e coisas do gênero. A partir daí não foi difícil imaginar que minha vida daria um bom filme cult com uma audiência mínima. Não hesitei em adivinhar que seria A Dupla Vida De Veronique, da minha aspiração de vida, Krzysztof Kieslowski.
Mesmo antes de vê-lo, já sentia, não digo necessidade, mas falta de alguém que me entesse por completo. Alguém que eu ficasse olhando por um minuto e ele dissesse "sim, Vanessa, eu te entendo". E depois de assistir à Dupla Vida de Veronique, não conseguia parar de pensar que pode existir uma outra Vanessa Olszewski andando por aí, igual de nome, corpo e alma. Misturando um pouco as coisas, acho que somos personagens amelísticas, romanescas, quiméricas, atrás de seus Ninos em um filme do Kieslowki. Sinto que existe um outro alguém que sente um frio no estômago quando eu estou apaixonada, ou que dá risadas sem motivo quando eu ouço uma piada. Será que quando acordo certas manhãs feliz da vida sem motivo aparente é ela que ganhou um presente? E quando me dá uma vontade súbita de ficar no meu quarto sem ver ninguém, será que foi ela que brigou com o namorado? Nós sentimos, mesmo, tudo que a outra sente, passamos pelos mesmos questionamentos e situações semelhantes ao mesmo tempo? E onde ela mora? Meu palpite é que seja em Paris; só isso explicaria minha paixão tão sem razão que tenho pela França desde pequena, quando ficava fascinada ao ouvir pessoas falando francês pela televisão. Talvez, quando penso em acabar com tudo, ela toma um fôlego de coragem, diz pra si mesma que a vida vale a pena, me fazendo retomar a vontade imensa de viver, e vice-versa. Acho que nossa missão nesta vida é mudar uma a vida da outra. Nunca nos vimos, nem nos falamos. E é assim que tem de ser. É assim que nos entendemos.
Se um certo dia alguém achar que minha vida foi interessante e pensar em fazer uma cinebiografia, este alguém vai estar com uma idéia ultrapassada. Esta já existe, e se chama a Dupla Vida de Veronique. Não sei se é alguma sintonia de polaco, mas tenho certeza que o Kieslowski fez esse filme para mim. Como ele sabia, eu não sei. Fico muito grata a ele.