quinta-feira, 4 de junho de 2009

Luto.

Hoje não vim aqui para falar de cinema. Já estou devendo uma boa postagem, mas, sem querer desprezá-los, não tive paciência para escrever. Há tempos, quero dizer algo sobre o Gran Torino, do Clint. Porém, ir ao cinema consciste de um ritual que vai desde a companhia até o que você comeu durante o filme. A pipoca esfriou rápido, mas a companhia estava boa. Juro que não foi a pipoca que um dia me fez chorar. Resumindo, é díficil lembrar certos acontecimentos (mesmo que agradáveis). E droga, eu tinha um ótimo texto! Mas, por enquanto, não vim para falar de cinema. Vim para falar da vida real, que por vezes se assemelha a arte nos seus pontos mais dramáticos.

Ele: -Então tu disse que tinha algumas coisas pra me dizer...
Ela: -Sim..
Ele: -Eu também. Fala tu primeiro.
Ela: -Não, fala tu.
Ele: -Não, fala tu primeiro. Faço questão.
Fazia 3 semanas que não se viam. Apenas trocaram algumas conversas por telefone, sem te amo e sem saudades. Ela disse que ele andava estranho.
Ela: -Estou preocupada.
Ele: -Eu realmente tenho andado estranho. Estou passando por um momento difícil, numa espécie de depressão.
Como ele podia não sentir vontade de abracá-la e beijá-la loucamente entre um te adoro e um senti muito sua falta? Ela, que era tão digna de tal ato, ficou esperando seus carinhos em vão.
Ele: -Estou passando por problemas financeiros, talvez tranque a faculdade, não consigo emprego. Preciso passar por isso sozinho.
Ela: -Estou passando por problemas financeiros, não posso pagar uma faculdade, não consigo emprego. Preciso muito de alguém agora.
Como estavam passando por situações tão parecidas e pensavam tão diferente? Como podiam ter reações tão opostas? Ele entrava em depressão, e ela sempre inventava um motivo para levantar da cama. Ele dizia que ela deveria ser forte, que ela não sofria tanto quanto ele. Levianas palavras a dele: jamais diga que você sofre mais; sofrimento não se mede. Sofrimento se sofre.
Ele: -Eu não queria jamais te magoar. E sei que já magoei...
Ela ouviu isso sob as luzes fortes do shopping e olhares curiosos tentando saber por que segurava o choro.
Ela: -Estou passando pelo pior momento da minha vida. Preciso do teu apoio.
Ele: -Tu não vai gostar de ficar comigo. Não posso te ajudar.
Ao fundo, tocava Ma Vie, de Alain Barriere, Hymne a L'amour, de Piaf, Viens Ma Brune, do Salvatore Adamo... Maldito centenário da França no Brasil! Maldição ter nascido no Brasil! Eram suas músicas preferidas. E agora, sempre que as ouve, ela põe a mão na boca, atravessa a garganda, arranca seu coração fora e o atira, ainda batendo, contra a parede na tentativa de fazer parar a dor. Mas não importa se está dentro ou fora do peito, o desgraçado insiste em doer.
Ela: -Mas a vida é assim mesmo: venturas seguidas de desventuras. E não podemos prever quando, como ou quanto tempo cada estágio irá durar. Se toda vez que algo de mal lhe acontecer, tu renegar a companhia das pessoas queridas, então tu irá magoar todos que gostam de ti. Para sempre.
Assim disse ela, agarrada a um fiapo de esperança; o qual ele arrancou cruelmente:
Ele: -Eu sei. Mas não posso mudar. Não é nada contigo; apenas não consigo levar um relacionamento adiante. Acho que quero passar por isso sozinho.
Num raciocínio frio, as pessoas podem afirmar: "não se pode obrigar ninguém a gostar de alguém." Mas quem a conhece afirmaria com mais êxito: "como pode não gostar dela? Tão bonita! Tão interessante!". Só que ser bonita e interessante parece não bastar.
Ela: -Essa é a tua decisão final?
Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça.
Ela: -De todos que me largaram, tu foi o que mais me machucou: os outros não passaram de orgulho e amor-próprio. Mas tu, era sentimento...eu te odeio!, garoto infantil, garoto mimado!, pensou ela, em uma fração de segundos, em dizer a ele. No entanto, tudo que conseguiu fazer foi dar as costas, ir andando, deitar do banco de trás do carro e chorar. Chorou como uma criança chora quando o mar leva embora seu castelo de areia. Droga! E o inverno que passariam juntos no edredom? E o presente que ela havia comprado para o dia dos namorados?
Como conseguimos ser fortes com a morte, com a guerra, com a miséria que nos cerca; e como uma história de amor banal quase pode nos destruir? Ou ainda, será que ele tinha noção da mudança irreversível que causara na vida dela? Ela não consegue mais ouvir U2, nem ver um filme do Woody Allen, nem ver a cara da Scarlett Johansson. Tudo lembra ele. Tudo dói. E todos os lugares sem ele parecem não ser mais os mesmos lugares.
Ela, que na semana passada, rezara para que tudo se ajeitasse em sua vida, agora, não acredita mais em Deus; por mil diabos, Ele a viu sofrer e não fez nada. Ser vegetariana pra que? Algum dia as vacas e as galinhas se reuniram para lhe fazer algo de bom? E as pessoas que lhe dizem: "você é muito jovem. Não há quem não tenha sofrido por amor". Oras! Não há insulto pior! Só porque o resto das pessoas já sofreram por amor, ela também tem que sofrer? Desde quando isso é uma lei? Desde quando pensar na dor dos outros diminui a nossa própria dor? São todas pessoas mesquinhas que não superaram suas próprias desilusões e se consolam ao ver a decadência dos outros. E o pior: não faz sarar a ferida. Ela chora enquanto ele vibra com a goleada do Grêmio. Ele se diverte com os amigos enquanto ela chora. Sim, ele não merece suas lágrimas. E ela? Merecia sua rejeição? A vida é injusta: ele dá continuação a sua vida enquanto a dela não faz mais sentido.
Mas apesar de tudo, ela pensa que gostar de alguém não é vergonha. Também não é vergonha amar e não ser amada. Mas ver que as mesmas fotos, que ela ainda guarda com carinho, ele já as pôs na lixeira, fácil assim, faz parecer que amar sem ser correspondida seja a coisa mais humilhante do Universo. Mas era "ele quem entrava em depressão, e ela quem inventava um motivo para levantar da cama...".
Se alguém aqui já sofreu por amor, por favor, jogue a primeira pedra. Dói menos.

Quanto ao Gran Torino, limito-me a dizer que é um bom filme. Quem quiser, que o veja.

5 comentários:

Jenny Souza disse...

Pocha, sei exatamente como você esta se sentindo, é impressionante como mudam os personagens mas os filmes se mantem intactos.
Não digo isso para dizer que quem não sofreu por amor e etc, concordo ao dizer que quem sofre sofre, não importa se outros milhões já sofreram antes, mas acredito na teoria da fragmentação, sempre que fragmentava minha história me sentia melhor, não sei explicar.
Também já criei a teoria que as meninas tem coração, os meninos tem desejo, outra coisa que faz mal e tudo.
No fim a dor é importante e as revelações que acontecem depois dela te farão um bem danado, assim espero.
Tem uma expressão francesa que aprendi por lá, que estava estampado na camiseta de um ursinho de pelucia de uma amiga "Ça ira mieux demain" (Vai melhorar amanha), ela havia ganhado de presente em situação similar e papo sério, eu acredito no ursinho, por mais clichê e ineficaz a frase possa parecer agora.

Um beijão

Ouvi a música da Nara e ela faz bem.Obrigada.

ps.: vem passar uns dias aqui em São Paulo hein, não esquece !!! I'll be waiting. :)

Sara disse...

querida


sei que nessas horas não adianta dizer "eu sei como vc está se sentindo". a dor, infelizmente, é tua, e só vc sabe como senti-la.
mas as amigas estão aqui pra apoiar, pra ouvir, pra distrair. e eu espero me encaixar nesse grupo.

estou aqui, quando vc precisar!
:)



beijos

Anônimo disse...

Vanessa vc merece ser muuuuito feliz
BUSQUE
PROCURE
ENCONTRE
UMA PESSOA QUE TE AME DE VERDADE E QUE PRESTE

com todo meu carinho
da sua mãe e amiga que tanto te ama!!

eliria regina

Jac disse...

Menina, vai passar. Eu sei que vai. Sabe, eu passei essa noite acordada. Chorando. E não tenho nem forças para fazer um post decente, falando de quão triste eu estou me sentindo. Eu chorei, lendo teu post. O curioso é que eu fui a outra parte. Mas, sabe qnd vc sabe q merece algo que não recebe, e q vc só quer oferecer, e só oferece, mas parece que não recebe nunca? Isso dói muito. E vc quer alguém ali com vc, pq vc está sempre ali para esse alguém. E não encontra qnd precisa...Mas vai passar. Eu sei que vai.

Vanessa Olszewski disse...

Obrigada, amigas queridas, pela força! Amo todas vocês!