quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Por que Tim Burton é um gênio?

Seria porque ele sempre chama Johnny Depp para integrar seus elencos? Isso lá é uma conseqüência e não um motivo. Na verdade, a razão que torna um indivíduo genial ou não, não saberia eu explicar. Nem sei qual é. Nem sei se alguém sabe. O fato é que vejo em Tim Burton um gênio. Um gênio bem esquisito, é verdade. Insano, provavelmente. Convencional, nem um pouco. Há provas disso.
Desde sua singular infância, Tim vivia mergulhado nas suas próprias bizarrices e apreciava o mais fino escritor escritor de contos e poesias macabras, Edgar Allan Poe. E ele também inspirou-se muito naquele que, justamente, interpretou muitas das obras de Edgar: Vincent Price. E gostava tanto, que lhe deu seu nome como título de sua primeira curta-metragem (1982). É a história em forma de poema sobre um garotinho chamado Vincent, que sonha em ser Vincent Price, narrada pelo próprio Vincent Price. Daí já dava para imaginar o que viria a ser a obra desse menino maluquinho.
Tim Burton é, antes de ser um diretor maluco, um maluco diretor.

Vincent

terça-feira, 19 de agosto de 2008

E um assunto puxa outro

Só nessa breve introduçao, gostaria de acrescentar mais um comentário em relação ao último post. Deixei de fora a descrição de uma das melhores cenas, na minha opinião, do filme: o olho de Jean-Do sendo costurado. Deixei-a de fora não por esquecimento, mas para cuidar que o leitor não se cansasse com um texto longo e pensasse que os excessos de detalhes fossem para encher murcilha. Enfim. O que faz dessa cena merecer uma citação é, simplesmente, uma mudança do ponto de vista. Literalmente. Se o procedimento fosse filmado pelo ponto de vista do médico, ou de um mero observador, a sensação seria de nojo (se chegar a tanto) para os que têm estômago fraco. Mas por ser vista do olho em questão, a sensação é de completo desespero, no mínimo, se você tiver um pingo de escrúpulo. Já posso tentar descrever como é ter um olho lacrado com uma agulha e uma linha cirurgica. E agora cheguei no ponto em que queria: essa capacidade que o cinema tem de provocar sensações é uma das coisas que mais me fascina. E não é a sensação na qualidade de observador, e sim, na de observado. Encerrando o tema Julian Schnabel, vamos tratar daquele que eu considero outro perito no assunto: Michelangelo Antonioni.
E como fazer com a pessoa que esteja vendo o filme sinta as dores da personagem usando apenas uma câmera e alguns efeitos de cena? Talvez seja mais fácil tirar água de pedra usando uma caneta Bic como faria o Macgyver. Mas Michelangelo Antonioni consegiu. No filme Blow up ("Depois Daquele Beijo"), é um ótimo exemplo. A história baseia-se em discutir o que é e o que não é real, e até que ponto nossa imaginão fértil influi nisso; já que o protagonista, Thomas, não sabe ao certo se testemunhou um assassinato ou não. Durante esse percurso, ele, passa por momentos de tédio, monotonia, um pouco de presunção, alienação, dúvida e muita confusão mental. É praticamente uma overdose de condições emocionais. E como fazer com que percebamos isso sem falar nada? Desligando o som. Genial: no meio de uma avenida, dirigindo um carro, não se ouve sequer o ruído do motor. Quer ver como funciona? Nossa primeira reação é a tentativa inútil de aumentar o volume da TV, pensando que há problemas com o aparelho. Depois de um minuto assim, inconformados com a situação, vem o tédio, a monotonia. Até que a maioria das pessoas tenha dificuldade de prestar atenção na cena. Mais ou menos como Thomas também não parece estar prestando muita atenção no que se passa e se mantém entretido com seus pensamentos. Ou talvez nem pense em nada. Pra que ouvir os carros se eles não dizem nada? Aproveite o tempo a sós com sua mente e faça o mesmo! Mas daqui a pouco o som volta e reconquista nossa concentração, trazendo com ele uma seqüência de cenas, aparentemente, sem nexo e sem sentido nos deixando maluquinhos e confusos. Viu só como funciona?
Mas não se apresse em correr à locadora. Se você for míope e não consegue ler um filme em suas entrelinhas, esqueça. As longas lacunas de puro silêncio, não vão passar de lacunas longas de silêncio puro. Espere Sex And The City sair em DVD.
E pra fechar o festival de grandes impressões, o filme acaba em um belíssimo jogo de tênis sem bola, nem raquete. Entenda: os jogadores são mímicos. Sim; aquelas criaturas irritantes que se vestem de arlequim e vão às ruas limpar o "nada". E a "bolinha" cai para fora da quadra. O nosso querido Thomas poderia passar reto, mas entrou na brincadeira e juntou-a do chão. Ou seja, aí está o resumo da grande questão do filme: o que é e o que não é real depende do que você acredita e do que você alimenta. Isto é, eu poderia ter passado todo o filme adiante e ter assistido só a esta parte e economizado um tempão. O diretor passou o filme todo brincando com os meus sentidos de audição e visão. Me senti , de novo, igual ao Thomas: uma completa idiota. E que sensação maravilhosa! Bravo, Antonioni, bravo!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Menos é mais

Desculpem-me o atraso. Sei que "O Escafandro E A Borboleta" está nos cinemas há um bom tempo, mas só agora pude organizar meu tempo para falar sobre ele. Compreendam: não sou crítica de cinema, portanto não me pagam para assistir aos filmes. E como eu não vivo de luz, e o cinema não anda lá muito barato, não vou ao cinema com a freqüência que gostaria. Enfim, vamos ao assunto que o traz a esse blog.
"Le Escaphandre Et Le Papillon" é uma filme baseado no livro, de mesmo título, escrito por Jean-Dominique Bauby, redator da revista Elle. Contrariando o filme que deu origem a primeira resenha desse blog, O Escafandro E A Borboleta não tem nenhum efeito especial mirabolante. Menos é mais. Menos dinheiro investido em efeitos, e mais idéias para investir em conteúdo. O resultado impressiona mesmo os mais descrentes no estilo cult de ver a vida (e o cinema).
A primeira cena parece não ter a mínima pretenção de tornar-se uma história agradável para quem lhe assiste. Os olhos de Jean-Do transformam-se nas câmeras; e sua consciência, na narração. Ele acorda em um hospital após ter sofrido um derrame cerebral. Apenas seu olho esquerdo se move, posto que esteja com sua consciência intacta. A sua visão embaçada dá a impressão de que é nossa a visão embaçada. Até me peguei piscando algumas vezes na tentativa de enxergar melhor. A angustia de tentar se expressar e não conseguir excede o telão e torna-se real aos donos dos olhos atentos presentes na sala do cinema. Mas nem tudo é desgraça. Depois de uma meia hora de agonia aproximadamente, vêm as primeiras risadas. Aquilo que parecia ter ido buscar inspiração no México para fazer um bom dramalhão converte-se em uma das histórias mais doces que já vi.
A mente de Jean-Do nos conduz o tempo todo. Nos sentimos como Jean-Do. Nós somos o Jean-Do! E as cenas com imagens de borboletas e cachoeiras sobrepostas, dando um ar de vídeo caseiro de primeira comunhão ou de aniversário de 15 anos, ajuda a vizualizar o que se passa em sua mente.
E é no mínimo curioso que a síndrome do locked-in (quando o AVC não atinge o córtex cerebral) tenha acometido justo alguém com uma vida "glamurosa" (não quero julgar, no entanto não encontrei uma palavra melhor) como Jean-Do. Durante esse tempo, ele refletiu no óbvio: todas as coisas que deveria ter feito ou falado e que já não poderia mais fazê-los. E o melhor de tudo é que ele não se transforma em um hipócrita; não cria em oração, nem passou a crer depois disso tido. E era um perigo ser uma mulher bonita e atenciosa ao lado dele!
Jean-Dominique Bauby, com seu intelecto ileso preso em um escafandro, fez o que parecia impossível: escrever um livro piscando o olho esquerdo. Ecrever um livro piscando o olho esquerdo com maestria. Julian Schnabel fez o que em segundo lugar parecia ser impossível: transformou-o em um filme.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

David Lynch: quando eu crescer, quero ser que nem você.

David Lynch cruzou as fronteiras do Brasil pela primeira vez para o lançamento de seu livro "Em Águas Profundas: Criatividade e Meditação". O livro fala sobre experiências suas com a prática da meditação além de alguns momentos importantes de sua carreira. Eu já gosto do David. E pratico meditação quase todos os dias. Fiquei no mínimo curiosa para conferir seus relatos.
David é diretor da David Lynch Foundation, pintor, compositor e fotógrafo. Mas de todas as suas faces, minha preferida ainda é a de cineasta excêntrico, exótico, alvoroçado e promotor de perturbações (em um bom sentido), que criou "Twin Peaks", um dos seriados mais vistos no mundo todo.
Hoje, ele dará uma palestra no Projac, no Rio de Janeiro. Em sua agenda, ainda incluem-se as cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre. Aqui (Poa), ele participará da edição Fronteiras do Pensamento Copesul Brasken no salão de atos na UFRGS. Com a participação do Donavan (músico). Mas parece que já estão os ingressos esgotados. Snif!

sábado, 2 de agosto de 2008

Quer saber a origem dessas cicatrizes?

Quem não saiu fascinado da sala do cinema após quase duas horas e meia assistindo ao Batman - The Dark Knight que atire a primeira pedra. Confesso que não levava muita fé nos comentários extramamente positivos atribuídos a ele e a atuação de Heath Ledger. Tive que conferir com meus próprios olhos. São, simplesmente, as pessoas certas, no lugar certo, fazendo a coisa certa. É um elenco cheio de estrelas; mas nenhuma tira o brilho da outra. Cada personagem cai como uma luva para cada ator. Há quem ousa dizer que são os papéis de suas vidas! Ouso em concordar.
Além disso, esse segundo filme serviu para confirmar o que eu já suspeitava desde o princípio: Christian Bale é "o" Batman. Seu jeito sombrio, já visto em filmes como "O Operário" e "Equilibrium", e seus caninos são perfeitos para viver o Cavaleiro das Trevas. O Gary Oldman é a cara do Gordon... E se o Alfred dos quadrinhos tivesse a consciência de que seria interpretado por Michael Caine nos cinemas, certamente estaria aplaudindo de pé a uma hora dessas. Aliás, ter Michael Caine e Morgan Freeman como atores coadjuvantes não é para qualquer um!
Mas a grande estrela da vez é o Coringa. Pragas de Jack Nicholson a parte, é lastimável que Heath Ledger não possa vivenciar a grandiosidade de seu feito ao dar vida ao novo Coringa. Com o rosto coberto de cicatrizes, que o permite sorrir sempre, mesmo estando sério. Não esquecendo de seus bordões "Why so serious?" e "Quer saber a origem dessas cicatrizes?", que já entraram para a história do cinema.
Por falar em novo Coringa, uma das características mais legais do Batman de Nolan é a releitura das personagens do HQ. Apesar do ar sombrio e obscuro, as personagens mudam um pouco suas essências para ficarem mais humanas.
Vale a pena mencionar também o trabalho feito por Aaron Eckhart. Graças a ele, quase saí para comprar um broche "I believe in Harvey Dent".
Não sei se só eu reparei, mas nas cenas em que o Coringa dá a 3 homens uma estaca para "decidir" quem participaria de sua gangue, e a cena dos navios (explode não explode) me pareceram familiares. Essa coisa de "façam sua escolha" soou como Jogos Mortais na minha cabeça... Mas nada que comprometa o filme.
Finalizando, está tudo perfeito. Acredito que para superar o The Dark Knight, o terceiro filme do homem-morcego vai dar trabalho!