quarta-feira, 29 de abril de 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Déjà vu

Às jovens senhoras que foram ver a repetição do casal Leonardo DiCaprio e Kate Winslet ("dessa vez dá certo!"), talvez tenha sido um choque. Em Foi Apenas Um Sonho, o casal Titanic continua com a mesma química, ou até maior. A expressão facial de Kate e a interpretação dramático do DiCaprio estão impecáveis. Já o romance, afundou junto com o navio e congelou em 1997. Sam Mendes fez uma versão melhorada e, arrisco dizer, mais realista de Beleza Americana (que é dele também). Parece que Sam, de fato, odeia famílias. Ao menos as americanas.
O filme principia com o jovem casal, os Wheelers. E, como todo casal jovem, são sonhadores e consideram-se especiais. Ambos têm grandes ambições de fazerem o que querem da vida, sem se importar com as opiniões alheias. Para tanto, mudam-se para Connecticut. Frank vende seguros. April é dona de casa. Pretendem viver essa vida pacata até se assegurarem financeiramente e, então, finalmente, tornar realidade seus sonhos e altos ideais. Francamente, eu suponho que seja esse o princípio do filme. Isso porque a pateta que vos escreve confundiu-se com os horários e chegou uns 10min atrasada no cinema. Mas é uma suposição quase segura. Ao menos, é uma boa suposição.
No entanto, aquilo que era para ser temporário, virou permanente. Mais ou menos como aquele remendo de durepox de um óculos velho, que serviria até comprar um novo e fica para a vida toda. Mas diferente de um insignificante remendo, um emprego e uma casa compõe quase tudo o que existe na vida. Frank era para ser um vendedor temporário, e April, uma dona de casa de passagem, mas os dois acabam acomodados, esquecendo e abandonando os antigos planos. E os Wheelers e seu casal de filhos tornam-se a família perfeita. A típica família americana. E a típica família americana não é nada perfeita: Frank inicia um caso extraconjugal com uma secretária, e April começa a sentir o desgaste da vida ordinária que leva.
Em meio a todo esse caos conjugal, April tem a lucidez de retomar os planos de mudar de vida e decide viajar com o marido para França. Eles iriam de navio (não, de novo não!) até a Europa com a família, e ela trabalharia enquanto ele ficaria em casa por um tempo, superando os limites dos conceitos sociais da época. Por fora, Frank aceita a idéia, por dentro, mantém-se relutante. Porém, o momento de lucidez de April é visto como uma insanidade por todos. Eu, diria simplesmente que é pura inveja de uns e moralismo hipócrita de outros. O único que parece ser conivente com a idéia de tentar viver e não sobreviver de April é o problemático filho do vizinho, Michael (cena que vale a pena ver com atenção).
Em meio ao planejamento da viagem, Frank recebe um aumento e descobre que April está grávida. Frank decide não viajar (sorte do DiCaprio, azar da Kate) para melhor sustentar o filho. Mas é claro que o aumento do salário e a gravidez da mulher encobrem os verdadeiros motivos. Na verdade, ele tem medo de mudar. Tem medo de trocar o certo pelo inseguro. Ele tem medo de viajar e não arranjar outro emprego. Ou pior: tem medo de não saber fazer outra coisa que não seja o que já faz a tanto tempo.
Inconformada, April decide fazer um aborto, gerando inúmeras discuções perturbadoras com o marido, o que é, na verdade, quase o filme todo. April quer seguir o caminho da coragem e tentar viver, e Frank, o do medo de não conseguir a vida almejada, ou ainda, perder o pouco, ou tudo, o que já tem. Enfim, parece que os Wheelers, que se consideravam especiais, não são assim tão diferentes. São apenas pessoas normais. Pessoas que se acomodaram com suas vidas ordinárias. Pessoas que ficam entre o mundo aparentemente seguro que vivem e o mundo que pode tornar real os seus sonhos, mas que também é cheio de incertezas e convenções sociais que podem te engolir. Pessoas que não sabem mais como sonhar. Semelhanças com a sua vida são meras coicidências. Ou não.
Parece mesmo que o casal Titanic não foi feito para ter um happy ending.