terça-feira, 20 de janeiro de 2009

God Bless America

Vinte de janeiro de 2009. Dia que entrará para a história. E todos que aqui estão neste momento viveram esse dia. Finalmente este dia chegou. O dia em que o presidente negro dos EUA sai dos filmes de ficção (e do seriado 24h...) e adentra o mundo real. E não demora muito, ainda farão filmes de ficção contando a história real sobre esse dia e sobre a vida de seu Barack Hussein Obama.
Os EUA, como já se é sabido por todos, é a maoir potência do mundo em todos, ou ao menos nos principais, sentidos, inclusive, cinematograficamente. Não digo que os melhores filmes sejam americanos, mas os filmes que mais agradam a população mundial em massa são americanos. E sempre achei que há um certo sentimentalismo manipulador de lágrimas e orgulho de ser americano em filmes que retratam a história dos EUA. E como eles conseguem fazer a gente chorar... Mas hoje, acompanhando pela televisão a posse do novo dono do mundo, pude constatar que aquilo que se vê em filmes com temas polícos, aquele patriotismo vivo, é real. Dá até gosto de ver um povo que tem orgulho em ser patriota. E agora, com esse momento de renovação do poder americano, não faltarão roteiros para os próximos longos do gênero. A começar pela vida do Obama.
Nascido nos EUA, negro, com um dos nomes de origem árabe, canhoto, sua mãe era branca, antropóloga, e sofreu muito com a ausência do pai. Do quase anonimato, deu um salto napoleônico em sua carreira tornando-se presidente em bem menos tempo do que todos imaginavam. E o dia de sua posse...por si só, já parecia um filme! Lindo de se ver a banda do presidente tocando, pomposidades para todos os lados, contudo de uma maneira muito simples, com discursos muito sucintos. O discurso muito bem estruturado, servindo como uma injeção de esperanças para a auto-estima americana, e sem deixar de esquecer que os EUA não se tornará um país de cordeiros, mas que voltarão a ser um país civilizando, que dá para conversar. E tudo isso de um modo sinuoso tipicamente americano, sem antíteses barrocas. E a trilha sonora...Sabe aqueles momentos da vida que merecem uma trilha sonora mental? Pois este tinha uma de verdade! A extraordinária Aretha Franklin cantando My country,'tis of thee.
E para complementar o filme com pequenos detalhes, não pode ficar de fora o episódio do senador Kennedy, que passou mal neste dia. Ed Kennedy tem um tumor inoperável no cérebro, e, mesmo assim, fez um esforço para ir ver o Obama em sua posse. Frase de cinema: "Meu único objetivo de vida agora é ir ver a posse de Obama." (Ed Kennedy) E está pronto o filme. Ainda nem foi feito, mas já estou chorando. E o mais emocionante, é pensar que meus filhos irão vê-lo, e eu direi "mamãe viveu este dia, meu filho". Uma emoção sem tamanho ver esse marco histórico, da minha casa, situada na rua cujo nome é uma feliz coicidência: Martin Luther King.
Só para finalizar com toque de mestre, palavras do reverendo: "(...) o dia em que os amarelos serão legais, os vermelhos serão bacanas, e os brancos abraçarão o que é certo." Por isso os americanos sempre se promovem a nação de liberdade que triunfa sobre a tirania. Por isso, quando eles querem, eles nos fazem chorar.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A Dupla Vida de Vanesse

Então este dia chegou. O dia em que a Terra dá sua vigésima volta ao redor do Sol desde o dia que nasci. Sempre pensei que fazer 20 anos fosse coisa da mídia, mas hoje vejo que não. Fisicamente, ainda estou como se tivesse 18. Mentalmente, ainda permaneço com a cabeça de uma velha rabugenta de uns 80. Mas psicológicamente, pensar que duas décadas passam rapidinho, que daqui a pouco virão mais duas décadas, que o tempo escorre entre meus dedos, que talvez não dê para fazer tudo o que planejei para mim até o fim de uma única existência, me assusta e muito. Mas o fato de ainda não ter conseguido fazer tudo o que planejei, não quer dizer que tenha feito poucas coisas da vida. Tão pouco quer dizer que escolhi passar por certas situações que já passei. Pensando nisso, fiquei tentando adivinhar: se a minha vida fosse um filme, que filme ela seria?
Um romance não poderia ser, pois capricornianos são pouco efusivos. Um thriller também não (apesar de existirem relatos sobre poltergeists na minha sala). Nem vou citar aventura, suspense e coisas do gênero. A partir daí não foi difícil imaginar que minha vida daria um bom filme cult com uma audiência mínima. Não hesitei em adivinhar que seria A Dupla Vida De Veronique, da minha aspiração de vida, Krzysztof Kieslowski.
Mesmo antes de vê-lo, já sentia, não digo necessidade, mas falta de alguém que me entesse por completo. Alguém que eu ficasse olhando por um minuto e ele dissesse "sim, Vanessa, eu te entendo". E depois de assistir à Dupla Vida de Veronique, não conseguia parar de pensar que pode existir uma outra Vanessa Olszewski andando por aí, igual de nome, corpo e alma. Misturando um pouco as coisas, acho que somos personagens amelísticas, romanescas, quiméricas, atrás de seus Ninos em um filme do Kieslowki. Sinto que existe um outro alguém que sente um frio no estômago quando eu estou apaixonada, ou que dá risadas sem motivo quando eu ouço uma piada. Será que quando acordo certas manhãs feliz da vida sem motivo aparente é ela que ganhou um presente? E quando me dá uma vontade súbita de ficar no meu quarto sem ver ninguém, será que foi ela que brigou com o namorado? Nós sentimos, mesmo, tudo que a outra sente, passamos pelos mesmos questionamentos e situações semelhantes ao mesmo tempo? E onde ela mora? Meu palpite é que seja em Paris; só isso explicaria minha paixão tão sem razão que tenho pela França desde pequena, quando ficava fascinada ao ouvir pessoas falando francês pela televisão. Talvez, quando penso em acabar com tudo, ela toma um fôlego de coragem, diz pra si mesma que a vida vale a pena, me fazendo retomar a vontade imensa de viver, e vice-versa. Acho que nossa missão nesta vida é mudar uma a vida da outra. Nunca nos vimos, nem nos falamos. E é assim que tem de ser. É assim que nos entendemos.
Se um certo dia alguém achar que minha vida foi interessante e pensar em fazer uma cinebiografia, este alguém vai estar com uma idéia ultrapassada. Esta já existe, e se chama a Dupla Vida de Veronique. Não sei se é alguma sintonia de polaco, mas tenho certeza que o Kieslowski fez esse filme para mim. Como ele sabia, eu não sei. Fico muito grata a ele.