quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

E assim foi 2008...

...ou melhor, e assim se foi 2008. Acredito que o Ano Novo seja o dia mais positivo do ano. Mesmo que o ano que se passou tenha sido ótimo, todos entram em uma corrente vibratória otimista e esperançosa de um novo ano que se aproxima; que este seja ainda melhor. E como qualquer outro ser humano que se preze, também estou extramente otimista e esperançosa com o ano de 2009. Mas junto com essa euforia, existe em mim um sentimento de frustração com a entrada do próximo ano: 8 anos de ensino fundamental, 3 de ensino médio e 2 semestres inteiros de um curso superior e, a partir de amanhã, serei uma semi-analfabeta, ou semianalfabeta. Até agora não entendi por que tirar o trema e adicionar o k, o w e o y ao alfabeto. Vai ver o trema não serve para nada importante, como por exemplo indicar como se pronuncia certas palavras corretamente, e o k, o w e o y são muuuito usados na nossa língua e não podem ficar de fora! É por isso que à meia-noite (ou meianoite?) eu vou beber e esquecer.
E para dar uma ajudinha no amor e no bolso, existem milhares de simpatias, que nunca funcionam, mas que nunca custa tentar. Aqui em casa, sempre comemos lentilha. Não que eu acretide, porém se algo der errado no próximo ano, não quero ninguém me dizendo "viu, não quis comer lentilha". Então eu como. Além disso, na virada do ano, todos lançam mão de uma politicagem, começando com as promessas que nunca são cumpridas: vou emagrecer, entrar numa academia, parar de fumar, parar de beber e dar vexame nas festas do trabalho, etc.
E diferente do Natal, não existem filmes temáticos para o Ano Novo. Na verdade, eles continuam passando os filmes natalinos até o dia 30, depois voltam à programação normal junto com os programas especiais com retrospectivas do ano. Por isso a minha idéia era fazer um cine retrô, com os melhores filmes de 2008. No entanto, não assisti a filmes suficientes para criar uma lista. Aliás, esta vai ser minha promessa de fim de ano: no ano que vem, prometo ir, quando eleita for, uma vez por mês ao cinema e à locadora pelo menos. E prometo ainda comentá-los todos aqui.
Neste último texto do ano, quero desejar um feliz e iluminado Ano Novo a todos nós. E que venha 2009!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Hohoho, Marry Christmas!

A festa de Natal, quando eu era pequena, era a minha festa favorita do ano! Arrumar o pinheirinho, catar pinha na praça para pôr na guirlanda, encher a casa de luzinhas para esperar o Papai Noel me deixavam entretida por horas a fio. Mas, graças a Deus, eu nasci com um cérebro que funciona e descobri que o Papai Noel era só papai mesmo. Agora, acho que o Natal é uma festa muito cafona. Ou melhor, o Natal no Brasil é uma festa muito cafona. Eu tenho pena dos Papais Noéis que, para ganhar uns trocados, se vestem com aquelas roupas terrivelmente quentes num calor de 30ºC. Os que ficam no ar-condicionado do shopping ainda são sortudos. Mas o pior mesmo é estar derretendo, sentindo o cheiro de enxofre do inferno, e ainda ter que agüentar as decorações feitas de algodão, imitando neve, e bonecos de neve feitos de isopor. Por isso eu luto por um Natal brasileiro mais original. Primeiro, não tinha que ser um pinheiro de Natal, e sim, uma palmeira natalina. E segundo, vamos admitir que, por aqui, dezembro é um calor do baralho, e que o Papai Noel tinha que usar bermuda, chinelo de dedo e camisa florida. Aliás, como disse um amigo meu, ia ser o Malandro Noel. No lugar de leite com biscoitos, as crianças iam deixar uma Brahma bem gelada pro bom velhino. E em vez de descer pela chaminé e entregar presentes, ele iria invadir nossas casas e levar tudo o que a gente tem. Até porque chaminé é um artigo raro por aqui.
Outra coisa que me incomoda no Natal, é perceber que a magia e que o espírito natalino se dissipam a cada ano que passa, e o consumismo se fortalece. Talvez, com a crise, o verdadeiro espírito do Natal retorne às famílias, mesmo que forçadamente. Por isso, as melhores lembranças de Natal da minha vida, ainda, são os da minha infância. E uma das minhas lembranças mais fortes é os filmes com tema de Natal que eram reprisados todos os anos na TV. Isso acabou virando uma tradição, e uma leva de filmes com temas natalinos se repetem durante toda uma geração. Na geração de hoje, os mais famosos são O Grinch, Anjo de Vidro, Um Natal Muito, Muito Louco, O Expresso Polar, Um Duende em Nova York, Um Homem de Família, Sobrevivendo ao Natal e alguns outros que não lembro agora. Na minha infância, os que mais me marcaram foram:

Gremlins - Os gremlins despertavam a criança má que existia dentro de mim; queria molhar todos eles!

O Estranho Mundo De Jack - Mostra como funciona o Natal no mundo de Tim Burton. É o conto gótico mais fofo que já vi. Vale a pena reprisá-lo até hoje.

Duro de Matar - Não é bem um filme natalino, mas é um filme ambientado na época do Natal. Não era próprio para a minha idade; não sei como minha mãe me deixava ver. Mas eu era tão pequena, que não entendia bulhufas da história mesmo...

Um Herói de Brinquedo - Arnold Schwarzenegger (tive que olhar o nome dele no Google), mesmo antes de ser governador da Califórnia, não tinha tempo para nada, nem para comprar o presente de Natal do seu filho, deixando tudo para última hora. Só que o brinquedo estava esgotado, o Turbo Man. Então Arnold decide passar o filme todo correndo atrás do Turbo Man para reparar a falha com o filho. Não era o meu filme preferido, mas...passava sempre.

O Natal do Charlie Brown - Sempre tive muita pena do Charlie Brown. Ainda mais nessa história em que ele fica desiludido com o espírito do Natal. Mas, que puxa, gostava muito do Charlie!

Esqueceram de Mim - Esse é um filme que marca a época em que rir era uma coisa muito fácil. Macaulay Culkin protagoniza uma série de cenas em que armava armadilhas rudimentares e muito engenhosas para escapar das garras de dois ladrões muito trapalhões. Amava!

Férias Frustradas de Natal - Clássico absoluto! É, sem dúvida, meu filme natalino favorito; mostra como realmente funciona o Natal nas famílias normais. As festas de fim de ano, que eram para ser tranqüilas e fraternais, sempre acabam num estresse e com um peru explosivo. Afinal, quem nunca pensou que iria passar um Natal tradicional, com a família, e foi surpreendido com uma caravana de primos do interior que iriam passar o mês todo na sua casa? Sem falar na casa decorada com 50 mil luzinhas... Lembro que na época do filme, e nos anos seguintes, virou febre cobrir de luzes até a casinha do cachorro. Aqui no bairro, uma casa ganhou o apelido de "a casa do Chavy Chase". Imaginem por quê. Tinha sempre uma fila de carros para ver o "ponto turístico". Casualmente foi a mesma casa que ganhou um concurso que a Zero Hora fez, presenteando a casa mais iluminda; o que ia de confronto à campanha que faziam o ano todo para economizar energia por um mundo sustentável... Fora essa casa, que todo ano ainda faz uma decoração nova e faraônica, essa moda terminou e quase não vê mais essas luzinhas por aí. É por isso que Féria Frustradas de Natal vai ser sempre a minha melhor lembraça de Natal.

Desejo a todos que passarem por aqui, e aos que não passarem também, um Feliz Natal! Que o espírito natalino possua seus corpinhos e leve a paz e alegria para seus lares. Que o Natal seja menos material, mas não menos feliz. Boas Festas!

P.S. E qual o seu filme natalino favorito?

domingo, 21 de dezembro de 2008

...mas a Mônica queria ver o filme do Godard.

Se tem uma coisa no mundo que me deixa frustrada é o fato de nunca ter assistido a um filme do Godard. Logo eu, toda metida a cult, adoradora de filmes franceses, não ter visto, ainda, um filme do Godard. Mas juro que não é má vontade minha. Seus filmes são extremamente difíceis de se achar, tanto nas locadoras como para vender. A solução seria uma coisa mágica chamada internet, mas meu computar movido a manivela está com a memória mais ferrada que uma velhinha com Alzheimer e não agüenta baixar um filme inteiro. Então, resolvi usar um plano B: ir no festival Varilux, no Olaria, ver a reprise de Elogio ao Amor. Não contavam com minha astúcia! É, pois é...nem eu contava com minha própria astúcia e acabei chegando atrasada para a primeira sessão, e a impaciência me impediu de esperar pela segunda. Acabei indo ver o filme do Woody Allen mesmo, Vicky Cristina Barcelona. Meu sonho foi adiado.
O cinema do Olaria não é tão horrível como imaginava. Só é muito caro pelo conforto que oferecem (não-conforto na verdade). Sem falar no caldo de pessoas jovens que vão lá para celebrar sua cultura liberalista sexual. Mas dessa vez eles estavam ocupados vendo (ou fazendo sei lá eu o quê) o filme do Godard. As coisas estavam mais tranqüilas na sala de Vicky Cristina Barcelona. E confesso que fiquei com receio de falar sobre ele por aqui, já que não há tanto assim para se falar.
São duas amigas, norte-americas, Vicky e Cristina, que passam suas férias em Barcelona. Vicky é a garota centrada, que pensa que tem a cabeça e os sentimentos no lugar, noiva. Já Cristina é a mocinha conturbada, que se diz liberal; mais parecida com as pessoas da sala ao lado, vendo o filme do Godard. Ambas se envolvem com um artista, Juan Antônio, que vive uma relação conturbada com a ex-mulher, Maria Helena. Vicky acaba deixando a relação de lado e casa-se com seu noivo; Cristina se envolve com Juan e sua ex-mulher, e os três vivem um triângulo "feliz". E ao contrário do que muitos podem pensar, o filme não é nada ousado. Essa história de viajar à Europa para despertar desejos calientes e mulheres estupidamente gostosas e corajosas de viver uma relação a três já está pra lá de manjada. Ao contrário de ousado, achei uma tática muita segura escolher atrizes já conhecidas, como Scarlett Johansson e Penélope Cruz, para protagonizar uma beijoca; já que algo do gênero sempre garante que muitas pessoas, portadoras do cromossomo Y em sua maioria, irão aos cinemas. Do contrário, aposto que não teria feito o sucesso que fez. E a cena não chega a um minuto; nada que uma freira nunca tenha visto nos dias de hoje.
Por fim, a própria persogem, Cristina, reflete sobre a vida, sobre o amor e descobre que não é assim tão liberal quanto julgava ser e decide fazer outra coisa da vida, que nem ela sabe bem o que é. Todos voltam à América e tudo fica como estava. Lamentei durante um instante por não ser homem; pois ao sair do cinema, poderia ter pensado que valeu a pena só pela bitoca das duas belas moças, mas nem isso pude eu fazer. Tirando a Scarlett e a Penélope, não sobra muita coisa além da paisagem da bela Barcelona (além da conclusão de que se as mulheres fossem mais unidas, poderia dominar o mundo usando o lesbianismo forjado). Sem falar que o filme é quase todo narrado, com as conclusões bem mastigadinhas. Nem o trabalho de pensar direito eu tive, o que me incomodou ligeiramente. Mas não pensem vocês que falo tudo isso com ar de superioridade. Muito pelo contrário: muito me dói cada palavra de crítica que escrevo, já que se trata de um filme do Woody Allen. E eu adoro o Woddy pacas! Só que dessa vez não deu, e não quero forçar a amizade. Não ligue se a crítica diz que esse foi seu melhor filme, Woody, você pode fazer melhor. Eu acredito.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Um filme bom

Mantendo o meu compromisso com este blog, abro-o este mês com duas novidades. Uma boa, outra nem tanto. A boa é que finalmente resolvi abrir a carteira e ir ao cinema. A nem tanto é que este cinema era do novo grande shopping de PoA, o Cinemark do Barra Shopping Sul. E sabe como é cidade provinciana; logo, qualquer shopping grande vai de um programa de sábado a ponto turístico. E de fato, pensei que fosse encontrar uma obra faraônica. Só que isso parmaneceu na minha imaginação. O shopping nem é tão grande, tão pouco é bonito e as pessoas que o freqüentam, certamente, estavam fazendo outra coisa na hora em que Deus distribuiu a beleza no mundo. Salvo o cinema! Este sim é grande. Tão grande que eu, com minha mania de sentar no fundo, tive que parar para descansar no meio da escada. E olha que a última vez que parei no meio de uma subida foi em Gramado/Canela, na escada do Caracol... E para quem nunca teve um carro zero, vale a pena ir só para sentir o cheirinho de carro novo dos bancos de napa (ou seja lá qual for o tecido; não entendo de costura). Só que este não é o shoppingpocket, então vamos retornar ao assunto que interessa.
O filme que me troxe de volta a sala do cinema foi Queime Depois de Ler dos mais recentes oscarizados, irmãos Coen. Fui logo na estréia. Quase uma profissional. A história do filme é um pouco complicada de resumir. E se eu entrar em detalhes, vou estragar tudo. Digamos assim: o início dá a impressão de que o filme é um grande suspense quando um cd, contendo códigos sigilosos de um ex-agente alcoólatra da CIA é descoberto. Well. O problema não foi achar o cd contendo códigos sigilosos de um ex-agente da CIA, e sim, pensar que esses códigos sigilosos fossem algo muito importante. E toda essa confusão, misturada com toques de bom humor negro e ironia coeniana, faz com que todo mundo durma com a mulher de todo mundo, todo mundo fica paranóico, todo mundo acaba atirando ou esfaqueando todo mundo e todo mundo faz John Malkovich gritar histéricamente o tempo todo com todo mundo. Entendeu? Não? Então corra até o cinema e acabe de uma vez com esse nó mental. E se isso ainda não for motivo suficiente, darei mais outros dois bons motivos. Poderia dar três, mas vou dar apenas dois: George Clooney e Brad Pitt. O primeiro, porque é sempre bom tê-lo a qualquer hora, em qualquer lugar. E o segundo, é um rostinho bonito no papel mais engraçado de toda a sua carreira. Para quem duvida do talento de Brad Pitt, vai se surpreender ao vê-lo de terno e gravata, bicicleta, mascando chiclete e ouvindo um iPod. Estupidamente divertido para dizer o mínimo.
Agora vou revelar uma coisa. Mas o leitor terá de prometer que vai lhe assistir mesmo assim. Prometeu? Okey. Apesar de tudo isso, é um filme bom. Poderia ser um filme ótimo; o melhor filme dos irmãos Coen. Mas é um filme bom. Nada de mais. Mas isso é só uma questão de opinião. E essa é a minha. Um filme bom. E só para garantir, vá ao cinema pensando que está indo ver o pior filme de sua vida; o que vier, será lucro. Mas é um filme bom.
E falando em George Clooney, bem que os cientistas japoneses poderiam inventar um George Clooney de bolso. Eu compraria...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Tempo de despertar

Mais de um mês após minha última atualização, finalmente arranjei um tempinho na minha singela vidinha para sentar e escrever. Pensei até em postar algo sobre o Homem Aranha, para combinar com as teias que aqui se formaram, mas achei que não valia a pena o texto (não valia a pena essa piada também, mas...). E de qualquer forma, reassisti, essa semana, ao filme Tempo de Despertar, achei que seria mais apropriado e resolvi retornar abrindo uma sessão vale a pena ver de novo. O filme é relativamente antigo, de 1990 (é nessas horas que percebo que não adianta fugir da idade: quando os anos 90 passam a ser relativamente antigos) e traz dois caras terrivelmente bons no elenco: Robin Williams e Robert De Niro. Nem precisa comentar a genialidade deste último. Além disso, por algum acaso da sincronicidade, esse filme caiu como uma luva para mim, neste momento que estou vivendo.
A história, baseada em fatos reais, é sobre o neurologista Malcolm Sayer (Robin Williams), que desenvolve uma teoria para reverter o estado catatônico, provocado em pacientes que tiveram encefalite, utilizando um estímulo químico, semelhante ao tratamento usado para o Mal de Parkinson. Funcionou por algum tempo, depois, sabe-se lá por que, os medicamentos pararam de fazer efeito. O primeiro paciente a ser novamente despertado para a vida é Leonard Lowe (Robert De Niro).
Ao retornar a sua consciência, Leonard sente a vivacidade de suas últimas memórias: um garoto de 20 anos. Mas ao se olhar no espelho, seus cabelos parcialmente brancos o lembram dos anos que perdera "dormindo". Ao mesmo tempo, o tratamento é feito com o restante dos pacientes, deixando o hospital numa "zona" (num bom sentido). E nesse curto período em que esteve acordado, Leonard percebeu que as pessoas saiam às ruas, realizavam suas tarefas e retornavam à casa sem prestar atenção no que faziam. É quase como se vivessem ligadas no piloto automático. Por exemplo: quem consegue lavar um prato pensando que está lavando um prato? Nunca pensamos "estou lavando o prato, estou ensaboando, agora vou enxaguar". O mais comum é a nossa mente se distrair com as lembranças do que ocorreu ontem, com o que nós faremos hoje a noite, com alguma música que esteja tocando, etc. Pensando nisso, ele decidiu viver cada momento, não digo que intensamente, mas atentamente. Mais do que isso: quis mudar a vida das pessoas; fazê-las enxergar o que ele enxergava, fazê-las viver, ou melhor dizendo, vivenciar cada atitude. Em outras palavras, ele queria mostrar que as pessoas dormem de diferentes maneiras. Ele estava a anos paralisado, inconsciente. E mesmo tendo consciência e capacidade de se movimentar, o restante das pessoas estavam adormecidas tanto quanto ele, pois não presenciavam o presente. Será que passar a vida trabalhando e estudando maquinalmente, vivendo no presente somente para preparar o futuro é estar acordado? Você já olhou ao seu redor para ver se não há uma pessoa maravilhosa que está esperando um convite seu para tomar um café? Será que isso é estar consciente? Será que ter um blog e dar a desculpa da falta de tempo para não atualizá-lo é viver atentamente?









O parágrafo em branco serviu para o leitor pensar e refletir um pouco sobre si mesmo, sobre suas atitudes. Se achar muito trabalhoso, pode usá-lo para descansar também.
E nem tudo são flores. Após um tempo, o estado de saúde de todos os pacientes foi regredindo ao estado inicial de catatonia. Isso ocorre até hoje nos tratamentos de qualquer doença degenerativa, e não se sabe o motivo. É como se o sistema nervoso tivesse um complexo de bactéria e criasse resistência ao medicamento. Talvez seja o cérebro ou a mente que não queiram ficar curados. O certo é que o espírito continua o mesmo para os que acreditam que nele.
Não sei se o filme é tão bom como o julgo ser. Como já deu para perceber, estou numa fase, digamos, muito sensível. Não sei se é influência dos astros, da Lua, ou os hormônios efervescentes da juventude, mas ando mais emotiva do que nunca. Não posso ir ao supermercado sem pensar que esse passeio vai mudar minha vida, que tudo faz parte da minha busca existencial e espiritual. Talvez Tempo de Despertar seja somente mais um drama americano que te faz chorar lançando mão de clichês sobre a reflexão da vida, e que eu me impressionei de mais com esses assuntos de neurologia. Mas uma coisa eu afirmo: tente prestar atenção em todos os detalhes do momento presente a partir de agora para o resto de sua vida e verá como é extremamente difícil. Caso consiga, certamente será muito feliz.

sábado, 11 de outubro de 2008

Devaneios, vinhos e Chaplin

As pessoas que me conhecem e que convivem comigo já estão acostumadas com a minha cabecinha cheia de imaginação fértil. As que não me conhecem podem se supreender quando descobrem que esta pessoa que vos escreve, que parece ser tão calma e sossegada por fora, contém um alto teor de absurdidades oscilantes por dentro. E o momento preferido do dia para deixar a fantasia correr solta é durante meu exercício aeróbico diário. Enquanto condeno, inconscientemente, à morte as calorias através dos movimentos rítmicos e contínuos dos grupos musculares das minhas pernas e coxas, conscientemente gosto de inventar histórias e, eventualmente, divagar entre estranhos raciocínios e idéias. Raciocínios e idéias inúteis, porém deliciosamente divertidos. Uma das minhas últimas maluquices foi tentar comparar um enólogo com um cinéfilo, e gostaria de expor aqui.
Um vinho é feito de uvas, que crescem em uma vinícola, e é produzido por um vinicultor. Um filme é feito de atores, que desenvolvem-se com um roteiro, e é conduzido por um diretor. Um bom vinicultor pode extrair um sabor divino mesmo tendo em mãos uma safra não muito boa. O mesmo pode acontecer a um diretor com relação a seu elenco. E na hora de ir na loja, diante das prateleiras repletas de garrafas, não se pode simplesmente deixar que as tabelas de uvas ou safras da moda, ou até um rótulo atraente, façam sua escolha. Experimentar é preciso. Saber cheirar e degustar. E não importa o que digam: se você gostou, então é bom. O raciocínio ao ir a uma locadora também deve ser semelhante: não deixar que as críticas formem opiniões. Saborear um filme e decidir sua qualidade por conta própria valem mais que uma coluna de jornal.
E quanto mais velho, melhor. Mito. Alguns vinhos já alcançam sua maturidade com apenas 3 anos de idade. Às vezes, um filme também não dura mais do que isso: um ano no cinema, outro na locadora e mais um na TV e já estão velhos no sentido de desinteressantes. Muitas das risadas que nossos pais deram em suas juventudes no cinema podem não se repetir hoje por conta do filme já estar um tanto quanto ultrapassado. Ao contrário, alguns vinhos superiores podem ser muito jovens com 8 anos e demorar ainda mais tempo para que a acidez, o álcool, o tanino e o açúcar promovam seu envelhecimento. E quando penso em vinhos que ficam melhores com o tempo, penso em filmes que ficam melhores com o tempo, e, de imediato, me vem um nome a mente: Sir Charles Chaplin. Fico impressionada ao ver que sua obra não sofreu grandes conseqüências com o passar do tempo, nem apresenta rugas. Pelo contrário. Mudos e sem cor, ainda são modernos. E se me pedirem para comparar um de seus filmes com uma safra excepcional de Bourgogne, não hesitarei em dizer "O Grande Ditador". Em seu primeiro filme falado, sem ter noção da tragédia que foi o holocausto, em 1940, Chaplin lançava a mistura na medida certa da acidez e do açúcar, interpretanto o ditador Hynkel e adoçando com o barbeiro judeu ao mesmo tempo.
E a cada ano que passa, fica melhor e mais engraçado. Sempre que vejo a cena do austero ditador brincando com a delicadeza de uma criança com o mundo (que até hoje tenta-se inultimente imitar), parece que me emociono ainda mais do que da última vez. E mesmo estando anos a frente da II GM, a aclamação da paz feita há 68 anos por Charlie através do discurso do barbeiro está mais viva e autêntica do que nunca; muda-se o contexto do mundo, mas não muda de significado. E até que essa aclamação seja atentida, esse filme continuará jovem por muito tempo, arrisco dizer, infelizmente. Até lá, tomo sempre uma taça dessa garrafa sem medo de perder seu sabor magnífico.
Chaplin era a uva e o vinicultor. Ambos de excelente qualidade. Sempre que me sirvo de seus filmes, confesso, perco a elegância e me embriago. E por via das dúvidas, sempre volto de táxi para casa.

domingo, 21 de setembro de 2008

Existe o brasileiro, e existe o gaúcho

Buenas! Ontem foi dia 20 de setembro, dia em que se comemora a Revolução Farroupilha, feriado aqui na minha terra. E para a tristeza dos estudantes e para a alegria dos trabalhadores autônomos, este ano caiu em um sábado. E seja sábado ou não, com São Pedro abençoando com um dia de sol ou maltratando com um baita toró, o desfile sai de qualquer jeito, pois nunca um acampamento farroupilha acontece em vão.
Não sou uma boa gaúcha, admito. Não gosto, não como churrasco. Nem sou muito fã de musica gaúcha tradicionalista (não é ruim que nem a setaneja, mas também não é boa...). Acho que Porto Alegre é uma cidade grande muito provinciana; é o interior do mundo! E acho que o gaúcho é um povo bem peculiar (digo peculiar para não dizer estranho), muito bairrista, que não dá a mínima para o 7 de setembro, porém leva muito a sério, seríssimo, o dia 20 de setembro. É um povo que comemora com água nos olhos, digo, um fogo que brilha nos olhos, porque chorar não é coisa de homem, uma revolução que não deu lá muito certo... Mas isso é coisa para um professor de história explicar. Embora ache tudo isso e mais um pouco, que não me atrevo a dizer agora para não arranjar briga com algum gaudério que tenha apeado por aqui, tenho que admitir: nosso hino é lindo. É uma mentira, isso é verdade, mas é o mais bonito do Brasil. Não conheço todos os hinos dos estados brasileiros, mas o nosso é o mais bonito! É de arrepiar o pêlo! Além disso, tem alguns gaúchos que até dá orgulho de dizer que são meus conterrâneos, e não estou falando de Bento Gonçalves, nem de Garibaldi, que nasceu na Itália por uma questão de detalhe só...e muito menos de Getúlio Vargas! Estou falando de Jorge Furtado. O grande cineasta Jorge Furtado.
Por mais que ele diga "não faço cinema gaúcho, faço filmes em PoA" (ou algo que o valha, não me lembro direito), o guri é nosso e pronto! Ele é um dos melhores diretores e roteiristas brasileiros da atualidade que usa o nosso cenário. Passou pelos cursos de medicina, psicologia, jornalismo e artes plásticas, mas, graças a Deus, encontrou seu caminho no cinema (melhor para nós). Aliás, uma das poucas coisas que fazem me orgulhar de ter nascido por aqui é o nosso gosto por cinema e o nosso cinema em si; e o do Furtado em particular, que se assemelha muito com o cinema europeu. Seus filmes também costumam agradar a gregos e troianos: quem tem bom gosto adora os filmes do Furtado; e quem não tem também adora. O gosto pelos filmes do Jorge Furtado é um gostinho muito do fino que já está incluso em nossos genes. Seria uma barbaridade não gostar!
Deixo aqui, dividida em duas partes, a curta-metragem clássica do Jorge Furtado, Ilha das Flores. Feita em 1989, tem a minha idade. Apesar de ter um formato de documentário, não é nem de longe maçante. É bem no estilo europeizado (se é que isso existe) do seu jeito de fazer as coisas: um filme com várias pequenas mensagens que levam a mensagem principal do filme, quase como uma colcha de retalhos.
Aí está, então, em homenagem ao Rio Grande do Sul, céu, sol, sul, terra e cor. Ao estado que é um país dentro de outro, com seus folclores, as gurias de prenda e os guris pilchados dançando chula. E, principalmente, a todas as pessoas que lagarteiam pela Redença comendo bergamota, que não abrem mão de um baita programa de índio no domingo, no Parcão, só para tomar um mate amargo, que já caíram alguma vez em algum pega-ratão da UFRGS, que chamam a todos que nascem de Santa Catarina para cima de estrangeiro, que empinavam pandorga quando criança e que morriam de medo do velho do saco, que chamam torrada de torrada (no resto do país é misto quente), que vivem no Uruguai e no Paraguai comprando muamba, que peneiram a farinha para não "empelotar", que assistem todo ano a Tangos e Tragédias e que já nasceram chorando no Moinhos de Vento e dizendo "baaah"... E aos meus amigos estrangeiros para que "sirvam nossas façanhas de modelo a toda a Terra".



domingo, 14 de setembro de 2008

Que hacemos ahora, Fito?

Na minha vida, e na muitos que já estavam com o ingresso na mão, este foi o assunto da semana: show do Fito Páez no Pepsi On Stage, em PoA. E, depois de passar esses dias tomada pela ânsia, não posso deixar que esse 13 de setembro de 2008 fique sem registro. Eu sei que esse blog é dedicado a assuntos cinematográficos, pois eu mesma o criei. Mas como o Fito também é diretor e roteirista de cinema, não deixo de prestar minha homenagem a alguém envolvido com a sétima arte. E por não ter visto nenhum de seus filmes ainda, me restrinjo a comentar somente o seu trabalho como músico.
Foi mesmo uma experiência única. A começar pelo ingresso, que só me custou alguns centavos dos créditos do celular ao ligar para a Itapema FM, que estava com uma promoção. E a sorte resolveu me mostrar seu sorriso, e a rádio ligou de volta comunicando que havia sido contemplada com um ingresso para o show do Fito. Ao ouvir Fábio Codevilla dizer "...e os sorteados...Vanessa (pausa) 'Olzeusquí'..." simplesmente pirei e tive um ataque histérico no meio da sala. Nunca foi tão delicioso ouvir alguém se enrolando com meu sobrenome! E ia ver o Fito, nem que fosse sozinha. E que solidão que nada! Fiz amigos de última hora; personas maravillosas que agora fazem parte da história da minha vida e que, de alguma forma, sei que também faço parte da delas também.
E teve fãs de todas as querências e estilos. Tinha os que já estavam roucos nas três primeiras músicas, os que pulavam freneticamente. Tinha brasileiro com cara de argentino. Pequeños cantando El Cuarto De Al Lado para suas muchachitas punks. Um povo bem biruta que se dizia alegre por naturaleza (uhun, sei...). As apaixonas que se apropriaram do odor dos pés do Fito. E os anões (como eu) que passaram o tempo todo com seus pescoços erguidos e hoje estão se entupindo de antiinflamatórios. Mas todos eram iguais na hora de aclamar o grande astro que entrava em cena.
A apresentação foi junto de The Killer Burritos, uma banda de rock de Rosário (muito boa mesmo), cuja a figura dos integrantes deixa bem claro: argentino tem cara de argentino. Bueno. Durante o show o Fito teve um ataque de Madonna e trocou umas três vezes de roupa, o que me deixou com uma dúvida: ele fica mais charmoso de vermelho ou de verde? Ah, e a cusparada... Chovia visivelmente a cada repetição de "circo beat, circo beeeat". Sem falar que o Fito estava calminho, calminho. Talvez faltasse umas gotinhas de tequila na água trasparente, aparentemente pura, mineral e sem gás que estava bebendo.
O veredicto do show foi muito bom e um pouco decepcionante, talvez. Talvez fosse a acústica ruim, ou a falta de diálogo do nosso hermano com os fãs. Ou apenas fossem as expectativas demasiadas que todos faziam. Mesmo com o Fito fazendo uma performance impecável (apesar das controvérsias com o ritmo não tão rock'n'roll de Naturaleza Sangre) a maioria do público saiu com uma sensação estranha de que faltou alguma coisa. E não adianta: por mais q ele cante 11 y 6, A Rodar Mi Vida, Un Vestido y Un Amor (com o bis mais lindo que já vi na minha vida), sempre vai faltar Tumbas De La Gloria, El Amor Después Del Amor, Brillante Sobre El Mic e tantas outras... Só mesmo fazendo um show de 12 horas de duração para que ele deixe de ser perfeito e passe a ser surreal. E só mesmo quem estava lá para entender essas impressões tão contraditórias que ficaram!
Não sei se a espera do show foi mais divertida que o próprio show, mas com certeza sem ela, não teria sido igual. Gostaria de agradecer a todos que estavam no aeroporto (e a alguns que não estavam também), que ajudaram a fazer da minha noite uma noite e tanto! E mesmo com o corazón apertado com o gostinho de quero mais, o Fito vai continuar sendo o músico fabuloso e a paixão platônica de muita gente. "Tocar en Porto Alegre es como tocar en casa!" Chau, hasta mañana!

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Por que Tim Burton é um gênio?

Seria porque ele sempre chama Johnny Depp para integrar seus elencos? Isso lá é uma conseqüência e não um motivo. Na verdade, a razão que torna um indivíduo genial ou não, não saberia eu explicar. Nem sei qual é. Nem sei se alguém sabe. O fato é que vejo em Tim Burton um gênio. Um gênio bem esquisito, é verdade. Insano, provavelmente. Convencional, nem um pouco. Há provas disso.
Desde sua singular infância, Tim vivia mergulhado nas suas próprias bizarrices e apreciava o mais fino escritor escritor de contos e poesias macabras, Edgar Allan Poe. E ele também inspirou-se muito naquele que, justamente, interpretou muitas das obras de Edgar: Vincent Price. E gostava tanto, que lhe deu seu nome como título de sua primeira curta-metragem (1982). É a história em forma de poema sobre um garotinho chamado Vincent, que sonha em ser Vincent Price, narrada pelo próprio Vincent Price. Daí já dava para imaginar o que viria a ser a obra desse menino maluquinho.
Tim Burton é, antes de ser um diretor maluco, um maluco diretor.

Vincent

terça-feira, 19 de agosto de 2008

E um assunto puxa outro

Só nessa breve introduçao, gostaria de acrescentar mais um comentário em relação ao último post. Deixei de fora a descrição de uma das melhores cenas, na minha opinião, do filme: o olho de Jean-Do sendo costurado. Deixei-a de fora não por esquecimento, mas para cuidar que o leitor não se cansasse com um texto longo e pensasse que os excessos de detalhes fossem para encher murcilha. Enfim. O que faz dessa cena merecer uma citação é, simplesmente, uma mudança do ponto de vista. Literalmente. Se o procedimento fosse filmado pelo ponto de vista do médico, ou de um mero observador, a sensação seria de nojo (se chegar a tanto) para os que têm estômago fraco. Mas por ser vista do olho em questão, a sensação é de completo desespero, no mínimo, se você tiver um pingo de escrúpulo. Já posso tentar descrever como é ter um olho lacrado com uma agulha e uma linha cirurgica. E agora cheguei no ponto em que queria: essa capacidade que o cinema tem de provocar sensações é uma das coisas que mais me fascina. E não é a sensação na qualidade de observador, e sim, na de observado. Encerrando o tema Julian Schnabel, vamos tratar daquele que eu considero outro perito no assunto: Michelangelo Antonioni.
E como fazer com a pessoa que esteja vendo o filme sinta as dores da personagem usando apenas uma câmera e alguns efeitos de cena? Talvez seja mais fácil tirar água de pedra usando uma caneta Bic como faria o Macgyver. Mas Michelangelo Antonioni consegiu. No filme Blow up ("Depois Daquele Beijo"), é um ótimo exemplo. A história baseia-se em discutir o que é e o que não é real, e até que ponto nossa imaginão fértil influi nisso; já que o protagonista, Thomas, não sabe ao certo se testemunhou um assassinato ou não. Durante esse percurso, ele, passa por momentos de tédio, monotonia, um pouco de presunção, alienação, dúvida e muita confusão mental. É praticamente uma overdose de condições emocionais. E como fazer com que percebamos isso sem falar nada? Desligando o som. Genial: no meio de uma avenida, dirigindo um carro, não se ouve sequer o ruído do motor. Quer ver como funciona? Nossa primeira reação é a tentativa inútil de aumentar o volume da TV, pensando que há problemas com o aparelho. Depois de um minuto assim, inconformados com a situação, vem o tédio, a monotonia. Até que a maioria das pessoas tenha dificuldade de prestar atenção na cena. Mais ou menos como Thomas também não parece estar prestando muita atenção no que se passa e se mantém entretido com seus pensamentos. Ou talvez nem pense em nada. Pra que ouvir os carros se eles não dizem nada? Aproveite o tempo a sós com sua mente e faça o mesmo! Mas daqui a pouco o som volta e reconquista nossa concentração, trazendo com ele uma seqüência de cenas, aparentemente, sem nexo e sem sentido nos deixando maluquinhos e confusos. Viu só como funciona?
Mas não se apresse em correr à locadora. Se você for míope e não consegue ler um filme em suas entrelinhas, esqueça. As longas lacunas de puro silêncio, não vão passar de lacunas longas de silêncio puro. Espere Sex And The City sair em DVD.
E pra fechar o festival de grandes impressões, o filme acaba em um belíssimo jogo de tênis sem bola, nem raquete. Entenda: os jogadores são mímicos. Sim; aquelas criaturas irritantes que se vestem de arlequim e vão às ruas limpar o "nada". E a "bolinha" cai para fora da quadra. O nosso querido Thomas poderia passar reto, mas entrou na brincadeira e juntou-a do chão. Ou seja, aí está o resumo da grande questão do filme: o que é e o que não é real depende do que você acredita e do que você alimenta. Isto é, eu poderia ter passado todo o filme adiante e ter assistido só a esta parte e economizado um tempão. O diretor passou o filme todo brincando com os meus sentidos de audição e visão. Me senti , de novo, igual ao Thomas: uma completa idiota. E que sensação maravilhosa! Bravo, Antonioni, bravo!

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Menos é mais

Desculpem-me o atraso. Sei que "O Escafandro E A Borboleta" está nos cinemas há um bom tempo, mas só agora pude organizar meu tempo para falar sobre ele. Compreendam: não sou crítica de cinema, portanto não me pagam para assistir aos filmes. E como eu não vivo de luz, e o cinema não anda lá muito barato, não vou ao cinema com a freqüência que gostaria. Enfim, vamos ao assunto que o traz a esse blog.
"Le Escaphandre Et Le Papillon" é uma filme baseado no livro, de mesmo título, escrito por Jean-Dominique Bauby, redator da revista Elle. Contrariando o filme que deu origem a primeira resenha desse blog, O Escafandro E A Borboleta não tem nenhum efeito especial mirabolante. Menos é mais. Menos dinheiro investido em efeitos, e mais idéias para investir em conteúdo. O resultado impressiona mesmo os mais descrentes no estilo cult de ver a vida (e o cinema).
A primeira cena parece não ter a mínima pretenção de tornar-se uma história agradável para quem lhe assiste. Os olhos de Jean-Do transformam-se nas câmeras; e sua consciência, na narração. Ele acorda em um hospital após ter sofrido um derrame cerebral. Apenas seu olho esquerdo se move, posto que esteja com sua consciência intacta. A sua visão embaçada dá a impressão de que é nossa a visão embaçada. Até me peguei piscando algumas vezes na tentativa de enxergar melhor. A angustia de tentar se expressar e não conseguir excede o telão e torna-se real aos donos dos olhos atentos presentes na sala do cinema. Mas nem tudo é desgraça. Depois de uma meia hora de agonia aproximadamente, vêm as primeiras risadas. Aquilo que parecia ter ido buscar inspiração no México para fazer um bom dramalhão converte-se em uma das histórias mais doces que já vi.
A mente de Jean-Do nos conduz o tempo todo. Nos sentimos como Jean-Do. Nós somos o Jean-Do! E as cenas com imagens de borboletas e cachoeiras sobrepostas, dando um ar de vídeo caseiro de primeira comunhão ou de aniversário de 15 anos, ajuda a vizualizar o que se passa em sua mente.
E é no mínimo curioso que a síndrome do locked-in (quando o AVC não atinge o córtex cerebral) tenha acometido justo alguém com uma vida "glamurosa" (não quero julgar, no entanto não encontrei uma palavra melhor) como Jean-Do. Durante esse tempo, ele refletiu no óbvio: todas as coisas que deveria ter feito ou falado e que já não poderia mais fazê-los. E o melhor de tudo é que ele não se transforma em um hipócrita; não cria em oração, nem passou a crer depois disso tido. E era um perigo ser uma mulher bonita e atenciosa ao lado dele!
Jean-Dominique Bauby, com seu intelecto ileso preso em um escafandro, fez o que parecia impossível: escrever um livro piscando o olho esquerdo. Ecrever um livro piscando o olho esquerdo com maestria. Julian Schnabel fez o que em segundo lugar parecia ser impossível: transformou-o em um filme.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

David Lynch: quando eu crescer, quero ser que nem você.

David Lynch cruzou as fronteiras do Brasil pela primeira vez para o lançamento de seu livro "Em Águas Profundas: Criatividade e Meditação". O livro fala sobre experiências suas com a prática da meditação além de alguns momentos importantes de sua carreira. Eu já gosto do David. E pratico meditação quase todos os dias. Fiquei no mínimo curiosa para conferir seus relatos.
David é diretor da David Lynch Foundation, pintor, compositor e fotógrafo. Mas de todas as suas faces, minha preferida ainda é a de cineasta excêntrico, exótico, alvoroçado e promotor de perturbações (em um bom sentido), que criou "Twin Peaks", um dos seriados mais vistos no mundo todo.
Hoje, ele dará uma palestra no Projac, no Rio de Janeiro. Em sua agenda, ainda incluem-se as cidades de Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre. Aqui (Poa), ele participará da edição Fronteiras do Pensamento Copesul Brasken no salão de atos na UFRGS. Com a participação do Donavan (músico). Mas parece que já estão os ingressos esgotados. Snif!

sábado, 2 de agosto de 2008

Quer saber a origem dessas cicatrizes?

Quem não saiu fascinado da sala do cinema após quase duas horas e meia assistindo ao Batman - The Dark Knight que atire a primeira pedra. Confesso que não levava muita fé nos comentários extramamente positivos atribuídos a ele e a atuação de Heath Ledger. Tive que conferir com meus próprios olhos. São, simplesmente, as pessoas certas, no lugar certo, fazendo a coisa certa. É um elenco cheio de estrelas; mas nenhuma tira o brilho da outra. Cada personagem cai como uma luva para cada ator. Há quem ousa dizer que são os papéis de suas vidas! Ouso em concordar.
Além disso, esse segundo filme serviu para confirmar o que eu já suspeitava desde o princípio: Christian Bale é "o" Batman. Seu jeito sombrio, já visto em filmes como "O Operário" e "Equilibrium", e seus caninos são perfeitos para viver o Cavaleiro das Trevas. O Gary Oldman é a cara do Gordon... E se o Alfred dos quadrinhos tivesse a consciência de que seria interpretado por Michael Caine nos cinemas, certamente estaria aplaudindo de pé a uma hora dessas. Aliás, ter Michael Caine e Morgan Freeman como atores coadjuvantes não é para qualquer um!
Mas a grande estrela da vez é o Coringa. Pragas de Jack Nicholson a parte, é lastimável que Heath Ledger não possa vivenciar a grandiosidade de seu feito ao dar vida ao novo Coringa. Com o rosto coberto de cicatrizes, que o permite sorrir sempre, mesmo estando sério. Não esquecendo de seus bordões "Why so serious?" e "Quer saber a origem dessas cicatrizes?", que já entraram para a história do cinema.
Por falar em novo Coringa, uma das características mais legais do Batman de Nolan é a releitura das personagens do HQ. Apesar do ar sombrio e obscuro, as personagens mudam um pouco suas essências para ficarem mais humanas.
Vale a pena mencionar também o trabalho feito por Aaron Eckhart. Graças a ele, quase saí para comprar um broche "I believe in Harvey Dent".
Não sei se só eu reparei, mas nas cenas em que o Coringa dá a 3 homens uma estaca para "decidir" quem participaria de sua gangue, e a cena dos navios (explode não explode) me pareceram familiares. Essa coisa de "façam sua escolha" soou como Jogos Mortais na minha cabeça... Mas nada que comprometa o filme.
Finalizando, está tudo perfeito. Acredito que para superar o The Dark Knight, o terceiro filme do homem-morcego vai dar trabalho!