domingo, 21 de setembro de 2008

Existe o brasileiro, e existe o gaúcho

Buenas! Ontem foi dia 20 de setembro, dia em que se comemora a Revolução Farroupilha, feriado aqui na minha terra. E para a tristeza dos estudantes e para a alegria dos trabalhadores autônomos, este ano caiu em um sábado. E seja sábado ou não, com São Pedro abençoando com um dia de sol ou maltratando com um baita toró, o desfile sai de qualquer jeito, pois nunca um acampamento farroupilha acontece em vão.
Não sou uma boa gaúcha, admito. Não gosto, não como churrasco. Nem sou muito fã de musica gaúcha tradicionalista (não é ruim que nem a setaneja, mas também não é boa...). Acho que Porto Alegre é uma cidade grande muito provinciana; é o interior do mundo! E acho que o gaúcho é um povo bem peculiar (digo peculiar para não dizer estranho), muito bairrista, que não dá a mínima para o 7 de setembro, porém leva muito a sério, seríssimo, o dia 20 de setembro. É um povo que comemora com água nos olhos, digo, um fogo que brilha nos olhos, porque chorar não é coisa de homem, uma revolução que não deu lá muito certo... Mas isso é coisa para um professor de história explicar. Embora ache tudo isso e mais um pouco, que não me atrevo a dizer agora para não arranjar briga com algum gaudério que tenha apeado por aqui, tenho que admitir: nosso hino é lindo. É uma mentira, isso é verdade, mas é o mais bonito do Brasil. Não conheço todos os hinos dos estados brasileiros, mas o nosso é o mais bonito! É de arrepiar o pêlo! Além disso, tem alguns gaúchos que até dá orgulho de dizer que são meus conterrâneos, e não estou falando de Bento Gonçalves, nem de Garibaldi, que nasceu na Itália por uma questão de detalhe só...e muito menos de Getúlio Vargas! Estou falando de Jorge Furtado. O grande cineasta Jorge Furtado.
Por mais que ele diga "não faço cinema gaúcho, faço filmes em PoA" (ou algo que o valha, não me lembro direito), o guri é nosso e pronto! Ele é um dos melhores diretores e roteiristas brasileiros da atualidade que usa o nosso cenário. Passou pelos cursos de medicina, psicologia, jornalismo e artes plásticas, mas, graças a Deus, encontrou seu caminho no cinema (melhor para nós). Aliás, uma das poucas coisas que fazem me orgulhar de ter nascido por aqui é o nosso gosto por cinema e o nosso cinema em si; e o do Furtado em particular, que se assemelha muito com o cinema europeu. Seus filmes também costumam agradar a gregos e troianos: quem tem bom gosto adora os filmes do Furtado; e quem não tem também adora. O gosto pelos filmes do Jorge Furtado é um gostinho muito do fino que já está incluso em nossos genes. Seria uma barbaridade não gostar!
Deixo aqui, dividida em duas partes, a curta-metragem clássica do Jorge Furtado, Ilha das Flores. Feita em 1989, tem a minha idade. Apesar de ter um formato de documentário, não é nem de longe maçante. É bem no estilo europeizado (se é que isso existe) do seu jeito de fazer as coisas: um filme com várias pequenas mensagens que levam a mensagem principal do filme, quase como uma colcha de retalhos.
Aí está, então, em homenagem ao Rio Grande do Sul, céu, sol, sul, terra e cor. Ao estado que é um país dentro de outro, com seus folclores, as gurias de prenda e os guris pilchados dançando chula. E, principalmente, a todas as pessoas que lagarteiam pela Redença comendo bergamota, que não abrem mão de um baita programa de índio no domingo, no Parcão, só para tomar um mate amargo, que já caíram alguma vez em algum pega-ratão da UFRGS, que chamam a todos que nascem de Santa Catarina para cima de estrangeiro, que empinavam pandorga quando criança e que morriam de medo do velho do saco, que chamam torrada de torrada (no resto do país é misto quente), que vivem no Uruguai e no Paraguai comprando muamba, que peneiram a farinha para não "empelotar", que assistem todo ano a Tangos e Tragédias e que já nasceram chorando no Moinhos de Vento e dizendo "baaah"... E aos meus amigos estrangeiros para que "sirvam nossas façanhas de modelo a toda a Terra".



2 comentários:

Jenny Souza disse...

Eu me senti mesmo uma estrangeira a ler algumas partes de seu texto.hehehe

Mas me diverti muito.

Um dia quero mesmo ir conhecer esse seu pais!!!:D

Beijão da paulicéia desvairada.:D

Anônimo disse...

É, de fato, um grande filme. Divisor de águas na forma de contar uma história através de imagens. Isso, apesar de toda a polêmica de não ter sido rodado na Ilha das Flores e da população local ter ficado p... da vida pelo modo como ele caracterizou a ilha que não era a ilha, etc etc.
Vini Godoy.