sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Tempo de despertar

Mais de um mês após minha última atualização, finalmente arranjei um tempinho na minha singela vidinha para sentar e escrever. Pensei até em postar algo sobre o Homem Aranha, para combinar com as teias que aqui se formaram, mas achei que não valia a pena o texto (não valia a pena essa piada também, mas...). E de qualquer forma, reassisti, essa semana, ao filme Tempo de Despertar, achei que seria mais apropriado e resolvi retornar abrindo uma sessão vale a pena ver de novo. O filme é relativamente antigo, de 1990 (é nessas horas que percebo que não adianta fugir da idade: quando os anos 90 passam a ser relativamente antigos) e traz dois caras terrivelmente bons no elenco: Robin Williams e Robert De Niro. Nem precisa comentar a genialidade deste último. Além disso, por algum acaso da sincronicidade, esse filme caiu como uma luva para mim, neste momento que estou vivendo.
A história, baseada em fatos reais, é sobre o neurologista Malcolm Sayer (Robin Williams), que desenvolve uma teoria para reverter o estado catatônico, provocado em pacientes que tiveram encefalite, utilizando um estímulo químico, semelhante ao tratamento usado para o Mal de Parkinson. Funcionou por algum tempo, depois, sabe-se lá por que, os medicamentos pararam de fazer efeito. O primeiro paciente a ser novamente despertado para a vida é Leonard Lowe (Robert De Niro).
Ao retornar a sua consciência, Leonard sente a vivacidade de suas últimas memórias: um garoto de 20 anos. Mas ao se olhar no espelho, seus cabelos parcialmente brancos o lembram dos anos que perdera "dormindo". Ao mesmo tempo, o tratamento é feito com o restante dos pacientes, deixando o hospital numa "zona" (num bom sentido). E nesse curto período em que esteve acordado, Leonard percebeu que as pessoas saiam às ruas, realizavam suas tarefas e retornavam à casa sem prestar atenção no que faziam. É quase como se vivessem ligadas no piloto automático. Por exemplo: quem consegue lavar um prato pensando que está lavando um prato? Nunca pensamos "estou lavando o prato, estou ensaboando, agora vou enxaguar". O mais comum é a nossa mente se distrair com as lembranças do que ocorreu ontem, com o que nós faremos hoje a noite, com alguma música que esteja tocando, etc. Pensando nisso, ele decidiu viver cada momento, não digo que intensamente, mas atentamente. Mais do que isso: quis mudar a vida das pessoas; fazê-las enxergar o que ele enxergava, fazê-las viver, ou melhor dizendo, vivenciar cada atitude. Em outras palavras, ele queria mostrar que as pessoas dormem de diferentes maneiras. Ele estava a anos paralisado, inconsciente. E mesmo tendo consciência e capacidade de se movimentar, o restante das pessoas estavam adormecidas tanto quanto ele, pois não presenciavam o presente. Será que passar a vida trabalhando e estudando maquinalmente, vivendo no presente somente para preparar o futuro é estar acordado? Você já olhou ao seu redor para ver se não há uma pessoa maravilhosa que está esperando um convite seu para tomar um café? Será que isso é estar consciente? Será que ter um blog e dar a desculpa da falta de tempo para não atualizá-lo é viver atentamente?









O parágrafo em branco serviu para o leitor pensar e refletir um pouco sobre si mesmo, sobre suas atitudes. Se achar muito trabalhoso, pode usá-lo para descansar também.
E nem tudo são flores. Após um tempo, o estado de saúde de todos os pacientes foi regredindo ao estado inicial de catatonia. Isso ocorre até hoje nos tratamentos de qualquer doença degenerativa, e não se sabe o motivo. É como se o sistema nervoso tivesse um complexo de bactéria e criasse resistência ao medicamento. Talvez seja o cérebro ou a mente que não queiram ficar curados. O certo é que o espírito continua o mesmo para os que acreditam que nele.
Não sei se o filme é tão bom como o julgo ser. Como já deu para perceber, estou numa fase, digamos, muito sensível. Não sei se é influência dos astros, da Lua, ou os hormônios efervescentes da juventude, mas ando mais emotiva do que nunca. Não posso ir ao supermercado sem pensar que esse passeio vai mudar minha vida, que tudo faz parte da minha busca existencial e espiritual. Talvez Tempo de Despertar seja somente mais um drama americano que te faz chorar lançando mão de clichês sobre a reflexão da vida, e que eu me impressionei de mais com esses assuntos de neurologia. Mas uma coisa eu afirmo: tente prestar atenção em todos os detalhes do momento presente a partir de agora para o resto de sua vida e verá como é extremamente difícil. Caso consiga, certamente será muito feliz.