segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Menos é mais

Desculpem-me o atraso. Sei que "O Escafandro E A Borboleta" está nos cinemas há um bom tempo, mas só agora pude organizar meu tempo para falar sobre ele. Compreendam: não sou crítica de cinema, portanto não me pagam para assistir aos filmes. E como eu não vivo de luz, e o cinema não anda lá muito barato, não vou ao cinema com a freqüência que gostaria. Enfim, vamos ao assunto que o traz a esse blog.
"Le Escaphandre Et Le Papillon" é uma filme baseado no livro, de mesmo título, escrito por Jean-Dominique Bauby, redator da revista Elle. Contrariando o filme que deu origem a primeira resenha desse blog, O Escafandro E A Borboleta não tem nenhum efeito especial mirabolante. Menos é mais. Menos dinheiro investido em efeitos, e mais idéias para investir em conteúdo. O resultado impressiona mesmo os mais descrentes no estilo cult de ver a vida (e o cinema).
A primeira cena parece não ter a mínima pretenção de tornar-se uma história agradável para quem lhe assiste. Os olhos de Jean-Do transformam-se nas câmeras; e sua consciência, na narração. Ele acorda em um hospital após ter sofrido um derrame cerebral. Apenas seu olho esquerdo se move, posto que esteja com sua consciência intacta. A sua visão embaçada dá a impressão de que é nossa a visão embaçada. Até me peguei piscando algumas vezes na tentativa de enxergar melhor. A angustia de tentar se expressar e não conseguir excede o telão e torna-se real aos donos dos olhos atentos presentes na sala do cinema. Mas nem tudo é desgraça. Depois de uma meia hora de agonia aproximadamente, vêm as primeiras risadas. Aquilo que parecia ter ido buscar inspiração no México para fazer um bom dramalhão converte-se em uma das histórias mais doces que já vi.
A mente de Jean-Do nos conduz o tempo todo. Nos sentimos como Jean-Do. Nós somos o Jean-Do! E as cenas com imagens de borboletas e cachoeiras sobrepostas, dando um ar de vídeo caseiro de primeira comunhão ou de aniversário de 15 anos, ajuda a vizualizar o que se passa em sua mente.
E é no mínimo curioso que a síndrome do locked-in (quando o AVC não atinge o córtex cerebral) tenha acometido justo alguém com uma vida "glamurosa" (não quero julgar, no entanto não encontrei uma palavra melhor) como Jean-Do. Durante esse tempo, ele refletiu no óbvio: todas as coisas que deveria ter feito ou falado e que já não poderia mais fazê-los. E o melhor de tudo é que ele não se transforma em um hipócrita; não cria em oração, nem passou a crer depois disso tido. E era um perigo ser uma mulher bonita e atenciosa ao lado dele!
Jean-Dominique Bauby, com seu intelecto ileso preso em um escafandro, fez o que parecia impossível: escrever um livro piscando o olho esquerdo. Ecrever um livro piscando o olho esquerdo com maestria. Julian Schnabel fez o que em segundo lugar parecia ser impossível: transformou-o em um filme.

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