sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A Dupla Vida de Vanesse

Então este dia chegou. O dia em que a Terra dá sua vigésima volta ao redor do Sol desde o dia que nasci. Sempre pensei que fazer 20 anos fosse coisa da mídia, mas hoje vejo que não. Fisicamente, ainda estou como se tivesse 18. Mentalmente, ainda permaneço com a cabeça de uma velha rabugenta de uns 80. Mas psicológicamente, pensar que duas décadas passam rapidinho, que daqui a pouco virão mais duas décadas, que o tempo escorre entre meus dedos, que talvez não dê para fazer tudo o que planejei para mim até o fim de uma única existência, me assusta e muito. Mas o fato de ainda não ter conseguido fazer tudo o que planejei, não quer dizer que tenha feito poucas coisas da vida. Tão pouco quer dizer que escolhi passar por certas situações que já passei. Pensando nisso, fiquei tentando adivinhar: se a minha vida fosse um filme, que filme ela seria?
Um romance não poderia ser, pois capricornianos são pouco efusivos. Um thriller também não (apesar de existirem relatos sobre poltergeists na minha sala). Nem vou citar aventura, suspense e coisas do gênero. A partir daí não foi difícil imaginar que minha vida daria um bom filme cult com uma audiência mínima. Não hesitei em adivinhar que seria A Dupla Vida De Veronique, da minha aspiração de vida, Krzysztof Kieslowski.
Mesmo antes de vê-lo, já sentia, não digo necessidade, mas falta de alguém que me entesse por completo. Alguém que eu ficasse olhando por um minuto e ele dissesse "sim, Vanessa, eu te entendo". E depois de assistir à Dupla Vida de Veronique, não conseguia parar de pensar que pode existir uma outra Vanessa Olszewski andando por aí, igual de nome, corpo e alma. Misturando um pouco as coisas, acho que somos personagens amelísticas, romanescas, quiméricas, atrás de seus Ninos em um filme do Kieslowki. Sinto que existe um outro alguém que sente um frio no estômago quando eu estou apaixonada, ou que dá risadas sem motivo quando eu ouço uma piada. Será que quando acordo certas manhãs feliz da vida sem motivo aparente é ela que ganhou um presente? E quando me dá uma vontade súbita de ficar no meu quarto sem ver ninguém, será que foi ela que brigou com o namorado? Nós sentimos, mesmo, tudo que a outra sente, passamos pelos mesmos questionamentos e situações semelhantes ao mesmo tempo? E onde ela mora? Meu palpite é que seja em Paris; só isso explicaria minha paixão tão sem razão que tenho pela França desde pequena, quando ficava fascinada ao ouvir pessoas falando francês pela televisão. Talvez, quando penso em acabar com tudo, ela toma um fôlego de coragem, diz pra si mesma que a vida vale a pena, me fazendo retomar a vontade imensa de viver, e vice-versa. Acho que nossa missão nesta vida é mudar uma a vida da outra. Nunca nos vimos, nem nos falamos. E é assim que tem de ser. É assim que nos entendemos.
Se um certo dia alguém achar que minha vida foi interessante e pensar em fazer uma cinebiografia, este alguém vai estar com uma idéia ultrapassada. Esta já existe, e se chama a Dupla Vida de Veronique. Não sei se é alguma sintonia de polaco, mas tenho certeza que o Kieslowski fez esse filme para mim. Como ele sabia, eu não sei. Fico muito grata a ele.

Um comentário:

Anônimo disse...

'A Dupla Vida' foi meu filme preferido, acho que desde os meus 18 ou 20 anos.
Até traí-lo pelo Lost in Translation.
É que com 30 a gente vira meio Bob Harris... hahaha
Felicidades!
Vini G.