domingo, 25 de outubro de 2009

Ganhou o Oscar, mas é bom

Descobri um país pior que o meu: a Índia. Esse negócio de um lugar onde as pessoas vão buscar paz interior, com gente extremamente espiritualizada é tudo coisa para turista bobão. Favelas, desigualdade social, prostituição infantil aliada ao tráfico de drogas, miséria extrema; estava quase me sentindo em casa. Além do fanatismo religioso, que provoca uma "guerra" e outra entre eles. Parece que viver na Índia não é nada auspicioso. Assim que o diga Jamal Malik e Latika, de Slumdog Millionaire.
Assim que foi lançado Quem Quer Ser Um Milionário, morri de vontade de vê-lo. Todavia, depois que ganhou o seu "Oscar", tornei-me um pouco resistente. Isso porque eu sempre arrumo briga com os grandes ganhadores. Não que os últimos sejam filmes ruins, mas poxa, para ganhar um prêmio de melhor do ano...sinto que os jurados se reúnem para rir da minha cara. Bem na verdade, acho que eles só vêem os trailers e lêem as críticas do "New York something". Ou seja, escolhem o filme que a grande massa escolheria (não que eu esteja me referindo à grande massa com inferioridae). Mas agora tanto faz se os infelizs dos jurados foram felizes na escolha ou não, o que interessa é que eu vi. E gostei do que vi. Muito. Mas muito mesmo.
O filme é um misto de denúncia social com um romance de conto de fadas moderno. Tem tudo em uma coisa só: ação, drama, romance, suspense. Só não tem comédia; e, se tem, é algo do tipo vou-rir-pra-não-chorar. A história é sobre um servidor de café de um call center chamado Jamal, que para tentar reencontrar seu grande amor, participa do programa "Quem Quer Ser Um Milionário", que nada mais é do que um Show do Milhão hindu. Jamal, incrivelmente, acerta todas as perguntas, o que faz com que o apresentador desconfie de trapaça. E mesmo vendo que Jamal de fato jogava limpo, ele o denuncia à polícia. Isso porque o Sílvio Santos hindu é um baita filho da pu...mãe. Nada muito diferente do nosso. E é tentando explicar aos policiais de como ele sabia as respostas que sua vida vai sendo exposta, desde a sua triste infância até agora. E Jamal é, como diria a minha mãe, um guri bom. Tudo o que ele faz tem amor, soliedariedade, amizade. A narração de como virou órfão, sobrevivia de pequenos trambiques e furtos; de como se apaixonou por Latika, de como o destino os separou e a forma com que tentou de tudo para reencontrá-la comove o chefe da polícia, que o liberta. E comove a todos que lhe assistem também.
Algumas cenas bem chocantes me impressionaram. Por exemplo: aqui, os malandros se fingem de cegos para pedir esmolas. Lá, eles realmente ficam cegos. Lá, eles são capazes de mergulhar em um fosso de merda (não uma porcaria fosso, mas um fosso de fato repleto de merda) para tirar uma foto com o seu ídolo. Aqui, bem...já não posso dizer que alguns ocidentais babacas não fariam o mesmo. Mas pode até ser que o filme tenha um pouco de sensacionalismo, ao pensar que filosofias tão legais como o yôga, e pessoas tão bacanas como o Gandhi vieram da Índia. É claro, filmes sempre acabam fazendo um drama a mais para gerar comentários. Mesmo assim, se for para ir para lá, ainda prefiro ficar por aqui.
E o final é feliz. Relativamente feliz. Isso foi outra coisa que me chamou a atenção, já que normalmente os filmes que ganham o Oscar costumam ter um final trágico ou pessimista. Parece que final feliz é sinônimo de filme ruim. Mas dessa vez, não tinha como fazer uma escolha diferente. Até porque, eu acredito em finais felizes. É disso que a humanidade precisa: sorrisos de alívio após toda a desgraça. Cenas assim devolvem a esperança à vida das pessoas.

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