domingo, 4 de outubro de 2009

Pequenas coisas que achamos por aí

Eu realmente não tenho vergonha na cara. Passei o mês de setembro todo sem postar nada. Mas desta vez não foi a falta de tempo: mudei de emprego. Estou numa empresa onde trabalho de terça a sexta, seis horas por dia e ganho o equivalente à duas vezes a mensalidade de medicina na Ulbra. Com tanto tempo livre, resolvi tirar férias da web. Tá bom, é mentira. Não escrevi nada porque não tive tempo. Sim, a desculpa é velha, é esfarrapada, mas fazer o que? Ainda trabalho de segunda a sábado, às vezes de domingo a sábado, de nove a doze horas por dia e o que eu ganho mal dá para financiar um fusca. Em outras palavras, me sujeito a um sistema imundo, ou capitalista, temporariamente. Mas isso é só até meu cérebro se reorganizar; às vezes "é necessário dar um passo para trás para dar dois passos para frente". No entanto, morro de medo de me tornar um personagem de Sam Mendes: me acomodar com a vida e deixar de acreditar que os sonhos podem se tornar reais.
Mas agora deixando de lado o momento drama da minha vida, hoje eu assisti a Marley & Me. Um dvd emprestado, claro; nunca que eu ia gastar R$4,50 em um filme de cachorro. Menos ainda se tiver o Owen Wilson no elenco. No entanto, todos os comentários que chegaram aos meus ouvidos era de que o filme é surpreendentemente bom. Well. Não vou dizer que eu gostei, nem vou dizer que eu não gostei. Apenas não tive expectativas, portanto não tive decepções. É uma história aguada, no estilo comédia americana, sobre um cachorro muito, mas muito atentado, que desperta o melhor das pessoas. Fora o cachorro atentado, não enxerguei mais nada da sinopse no filme. O que vale mesmo são as frases finais, quando o Marley morre. São palavras piegas, porém puramente verdadeiras. Mas nem chorei. Tá bom, é mentira. Chorei. E ah! Não venham me dizer que estraguei o final do filme porque todo mundo sabe que o maldito cachorro morre!
Como o filme de hoje não rendeu, vou estender a conversa falando sobre o filme que vi na semana passada: Uma Vida Iluminada. Simplesmente brilhante! Ou, se me permitem o trocadilho, iluminado! A história é sobre Jonathan Safran Foer. Nem precisa dizer que é judeu...apenas acrescento que é norte-americano. Esse tal de Jonathan de fato existe e escreveu um livro "Tudo se Ilumina", no qual foi inspirado o filme. Não é uma história autobiográfica. Mas ouso dizer, mesmo sem ter lido o livro, que certamente é um pouco autobiográfico sim; mesmo que simbólico, em um nível mais complexo de raciocínio.
Jonathan, interpretado pelo Froddo, que aliás está ótimo, além de judeu, tem uma mania muito, uhm, peculiar: colecionar tudo o que vê e que o lembra uma situação ou alguém. Colecionar selos, moedas é normal. Bem na verdade é coisa para quem não tem o que fazer, porém é aceitável. Entretanto Jonathan coleciona dentaduras, punhadinhos de terra, pedaços de comida e outros artigos imprevisíveis para uma coleção. Antes de sua avó morrer, ela lhe dá uma foto de seu avô com uma mulher ucraniana que salvou sua vida durante o nazismo. Ele decide então conhecê-la e vai para a Ucrânia, com a ajuda de Alex Perchov e seu avô. O negócio dos Perchov é justamente ajudar judeus a encontrarem seus antepassados, apesar de acharem que judeus não servem para nada, a não ser para incomodar. E os três saem para a busca acompanhados da cadela demente Sammy Davis Jr. Jr. E a história vai sendo narrada por Alex, com seu inglês extremente precário (Jonathan vira Jonfen), deixando a coisa toda mais divertida. Além do avô, que rouba alguns momentos com a sua estranha raiva de judeus, promovendo a dúvida revelada ao final do filme: seria ele nazista ou mesmo um judeu?
A paisagem do filme é simplesmente exuberante. Campos verdes, plantações de girassóis. Nunca consegui plantar nem um girasol que chega a dar raiva de ver uma plantação inteira... Anyway, eles seguem viagem procurando uma cidade que nem sabem direito o nome, e muito menos onde fica. Menção à cena da batata: Jonathan também é vegetariano. Ele só tinha uma batata para comer, e ela ainda cai no chão. Identifiquei-me. E descobri que vegetarianos são discriminados no mundo todo. Se bem que eu já desconfiava disso...
Ao fim, encontram uma velhinha, que conhecia a garota da foto e que os leva ao tal do lugar. Uma velhinha completamente alienada do tempo e com uma coleção ainda maior que a do Jonathan. E assim se desenrola o fim da história, ao mesmo tempo dedusível e inesperado.
Falando assim, Uma Vida Iluminada parece um filme que já vimos antes, com uma historinha emocionante, que fala de judeus pobrezinhos que sofreram com o nazismo. Bem pelo contrário: é um filme de uma estranheza meticulosa, que mistura o tempo presente com imaginação e com lembranças do passado. E justamente essa bizarrice ímpar que me fez adorá-lo! Simplesmente a minha cara. Tanto que chega a dar uma invejinha de não ter tido a oportunidade de dirigi-lo. Além disso, é o tipo do filme que, ao terminar, ficamos refletindo sobre ele. Mesmo que não se chegue a conclusão nenhuma, dá um prazer indescritível tentar deduzir e interpretar suas metáforas.
Bem, acho que por hoje está bom. Na verdade poderia estar melhor. Aliás, sempre pode estar melhor, mas já isso é outro assunto. Até a próxima.

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