terça-feira, 19 de abril de 2011

Um dia de Clarisse.

Está aí: preciso parar de me preocupar com o que dizem os outros.
Dia desses vi "NY, Eu Te Amo". Repete o mesmo formato de "Paris, Eu Te Amo", só que em homenagem a cidade de Nova York. O que eu penso de um vale para os dois: alguns curtas muito legais, outros nem tanto e uns bem ruinzinhos mesmo. Tentei selecionar alguns, os que mais gostei, para escrever sobre, mas acabei rasgando o papel (sim, as árvores que me desculpem, mas eu ainda faço o rascunho no papel); comecei a pensar que algum curta de que eu gostei um outro alguém não gostou e vice-versa. E então, não consegui pensar em mais nada...
Há algum tempo atrás, joguei tudo pro alto e decidi que iria ser cineasta. O que eu mais queria era dirigir um filme: colocar as minhas idéias nele, expor a minha visão de mundo. Acabei desistindo da idéia. Não tinha câmera, nem atores, nem produtores, nem dinheiro, nem nada na verdade. Só o que eu tinha era papel e lápis para escrever um roteiro. Sei que só com um papel, lápis e boas idéias se pode ir muito longe e conseguir tudo o que falta para realizar um projeto. E eu sabia como era a história e como eu queria que tudo fosse feito. Poderia ter começado por aí, conversado com mais pessoas até aprender o que eu tinha de fazer, já que eu não sabia, e não sei, nada sobre como fazer filmes. Foi então que comecei a pensar que a minha idéia não era assim tão boa, que era meia-boca e, até, que era uma idéia ruim. E mais ainda, temi, ou pior, tive certeza de que todos achariam que era uma péssima idéia, que eu não tinha vocação para a coisa, e nunca comentei nada com ninguém. Abandonei o navio bem antes de embarcar. Resolvi que essa não era uma carreira sólida e iria trabalhar em outra área. E fui. Até hoje sinto, não sei se arrependimento ou frustração. Mais ainda, me questiono: como eu sabia que não gostariam da minha idéia se ninguém a viu? O que eu tive, na realidade, foi medo de ouvir: enquanto a suposta negação estava só na minha cabeça, eu me conformava; mas ouvir dos outros dói mais, ainda que eu concorde. E no fim, nunca fiquei sabendo se o que eu tive foi falta de talento ou de coragem.
Ao final, o filme em si, NY, Eu Te Amo, me interessava cada menos. Depois de vê-lo, aconteceu uma dessas epifanias de Clarisse tão profunda, que já nem me importava se era um filme bom ou ruim. Acho que a vida da gente é assim mesmo: pequenos episódios, curtas, que algumas pessoas julgaram bons; outras, ruins. E, ainda por cima, me lembrei do Woody Allen; sempre digo que ele não é um gênio. Só que que milhares de pessoas acham que ele é. Ou seja, não importa o quanto eu diga que ele não é um gênio, ele não o deixa de ser. Ao menos não para esses milhares. E é com isso que eu preciso me acostumar. Algumas pessoas gostam de mim, e outras simplesmente não gostam. Alguns vão gostar das minhas idéias, outros acharão que é lixo e algum outro talvez as compre. Muita gente vai de encontro às minhas opiniões, e isso não é motivo para não tê-las. Nem empecilho para não dizê-las. Acho que a gente deve ser que nem ambrosia: alguns amam, outros odeiam, mas ela está sempre lá, presente na sobremesa de todos os buffets.
Quem sabe ainda não dá tempo de fazer um filme? O meu. Acho que vou parar de me preocupar tanto com o que os outros pensam. Da próxima vez que tiver uma idéia, vou mostrá-la para o maior número de pessoas que conseguir. Se dez não gostarem, vou continuar tentando até achar cem que gostem. E se cem não gostarem...daí eu troco de idéia.

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