domingo, 19 de agosto de 2012

Para sentir.

Lindo! Nada menos do que lindo pode-se dizer sobre o delicado mudo "O Artista". Iria dizer que fiquei sem palavras, mas então percebi que era um trocadilho muito do sem graça. O problema é que é realmente muito difícil escolher as palavras certas para descrever tanta beleza em um único longa.
Elegante. Jean Dujardin é George Valentin, um astro do cinema mudo. Até porque, não existia o falado ainda. E parece mesmo que alguém o recortou de uma película antiga e lhe deu vida com um pó mágico. Jean se parece tanto com um galã da época com aquele sorrisinho torto de lado, tão excessivamente garboso e de olhar malandro, que é díficil acreditar que seja alguém real dos dias de hoje. Realmente muito elegante. Só que é um elegante que usa bigodinho...e bigodinho nem é uma coisa assim tão elegante, pois sempre que penso num protótipo beleza no tempo atual, ele tem a barba para fazer. Bigodinhos hoje são cafonices que um dia foram elegantes.
Triste. É a história do cinema mudo que abre espaço para a voz e tem uma pitada de romance, assim como Cantando na Chuva. Mas não, não é como Cantando na Chuva, que é um musical-pastelão que enaltece a então nova modernidade e dá glórias ao Gene Kelly. O Artista é um filme mudo, em preto e branco, que relata a decadência do império do cinema mudo, bem como a de seus imperadores. Às vezes  a gente olha aquela foto antiga, vestindo uma calça boca de sino com um salto anabela e dá risada, um pouco aliviada por ter saído de moda. Mas quando são pessoas que saem de moda, a situação é diferente; não podemos comprá-las novas e guardar as velhas numa caixa de sapato. E o grande galã de outrora agora é condenado ao ostracismo e dá lugar a novas estrelas. Triste...que nada! Tudo isso só serviu para mostrar a quem não viveu esta era como foi grandioso o cinema mudo e como são eternas as pessoas que por ele passaram, salve, Rodolfo Valentino! O cinema mudo é uma arte e para poucos.
Clássico. Apesar de contar sua derrocada, o filme é mudo. Falar é fácil; complicado mesmo é expressar-se sem dizer nada. E sem traduzir em libras. Por terem poucas "falas", todas as frases "ditas-escritas" causavam muito efeito. E as musiquinhas? Ah, as músicas! Hoje elas vêm embutidas no som da televisão; antes, tinha de levar a orquestra inteira para o cinema. E um olhar precisava falar mais do que mil palavras, literalmente. Cada linha de expressão facial tinha a intensão de exprimir um sentimento diferente. Clássico, só se for no sentido de algo que deveria ser sempre usado (exceto a orquestra, pois ocuparia muito espaço). Admiro muito os atores que utilizam caras e bocas como seu melhor (neste caso o único) instrumento de trabalho.
Piegas? Uhm, um pouquinho. Tem um cachorro fofinho e fiel companheiro, um mordomo leal, um casamento infeliz, um amor que não se concretiza e uma linda garota. Mas piegas é uma palavra muito feia e deselegante. Ainda que possa ser verdade, chamar algo de piegas parece um insulto. Não, não. Piegas, não.
Encantador, fabuloso, tocante, original, esplêndido, comovente, romântico... Enfim, é tudo isso, mas não é bem isso. Não tem jeito, cometerei o tracadilho sem graça: retiro todas essas palavras, ficarei sem nenhuma. O problema é que O Artista é um filme que toca a alma da gente, e as coisas da alma não podemos descrever: apenas sentir.

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