domingo, 23 de fevereiro de 2014

"Dizem que as crianças não mentem. Infelizmente elas mentem muito."

"A Caça", filme dinamarquês dirigido por Thomas Vinterberg, é um drama delicado, que conta a história de um homem que é acusado injustamente de pedofilia. Lucas, interpretado por Mads Mikkelsen, o "O Amante da Da Rainha" e atual Hannibal da televisão, trabalha em uma escola para crianças em uma nanocidade, onde todo mundo sabe da vida de todo mundo. Como se não bastasse os problemas que enfrenta com a ex-mulher, que o impede de ver o filho, ele ainda é acusado de pedofilia por Klara, de apenas 5 anos. O que acontece, na verdade, é que Klara tem uma desas paixonites de criança por Lucas, a qual não é correspondida (graças a Deus). Zangada pela "rejeição", ela resolve dizer a professora responsável pela escola que Lucas exibiu seus órgãos genitais a ela. Ela, então, descreve as fotos que seu irmão mais velho lhe mostrara em casa. Família ótima essa. 
Aí aparece um gordo, acho que psicólogo ou coisa que o valha, para interrogar a pequena demônia. No início ela tenta negar, mas o gordo, em vez de analisar a situação e tentar compreender a mentira, ele a força a continuar na mentira, fazendo com que Klara contasse mais uma vez os fatos que não ocorreram. Não demorou muito para que todos na cidade fossem comunicados de tal ato repugnante, e o professor passou a ser repudiado e agredido por todos. 
A maioria das pessoas pensa que crianças são sacos com uma metade cheia de amor e pureza e a outra vazia, pronta para receber a produção da sociedade. Nos temos todos os sentimentos já, desde o amor até a raiva, porém, quando pequenos, ainda não sabemos lidar direito com a consequência que tudo isso causa (e às vezes nem depois de grande). Primeiro houve a raiva, depois a vingança, a mentira e o arrependimento. Porém, mesmo Klara confessando que seu professor era inocente, as pessoas preferem se apegar ao mal, e continuar com o falso julgamento. E, ao fazer justiça com as próprias mãos, as pessoas revelam sua natureza cruel e mostram até que ponto podem machucar pessoas (nesse caso um cachorro...) inocentes para agredir alguém. 
A metáfora da caça é usada no início e ao final do filme para lembrar-nos que enquanto caçadores tudo está bem, e até sentimos um certo deleite; no entanto ninguém gosta de ser a caça. É um ótimo filme para refletir sobre os nossos julgamentos precipitados, entretanto não o recomendo para os dias muito felizes para não gerar revolta desnecessária, nem aos muito tristes para não correr o risco de alguém cortar os pulsos, pois o filme é angustiante do início ao fim. 

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